Em meados do século XIX, nos sertões cearenses, mais precisamente na região do Cariri, localizada ao sul da província, predominava um mundo rural. A historiografia aponta que houve no decorrer dos oitocentos, principalmente a partir da década de 1850, um crescimento econômico caracterizado pela modernização do espaço, melhorias nos transportes, aumento nos índices de produção, o que refletiu no crescimento das vilas e das cidades. O presente trabalho busca analisar a relação entre a produção econômica, as formas de propriedade e as relações de trabalho, as características centrais do complexo econômico. A riqueza da classe senhorial estava diretamente relacionada à apropriação das terras e à exploração dos trabalhadores pobres e dos escravizados, o que gerava a desigualdade social existente e a relação entre a pobreza e a riqueza na região. A classe senhorial detinha as melhores terras, expandia seu patrimônio e conseguia diversificar suas atividades econômicas. Aos homens com menos recursos, geralmente restavam as terras de menor valor, descritas geralmente como “terras secas”. Já as terras regadias, com a possibilidade de uso das águas correntes, estavam concentradas nas mãos dos homens mais ricos e poderosos. Do outro lado, pequenos posseiros, trabalhadores sem-terra que moravam nas áreas de seus senhores, pequenos arrendatários, jornaleiros e trabalhadores das cidades constituíam a massa de pobres livres que, junto com os trabalhadores escravizados, realizavam a produção da época. A pobreza de muitos foi gerada em todo este processo, provocando as disputas e as situações de crise no período. Para manter a dominação, a classe dominante utilizava o discurso de impor o trabalho na agricultura aos trabalhadores, como sendo “civilizatório”, ao tempo em que buscava ignorar ou descrever as atividades dos trabalhadores por conta própria como inferiores, atrasadas ou de ociosidade. Foram utilizadas fontes como relatórios provinciais, documentos da Câmara do Crato, jornais e o ensaio estatístico da Província do Ceará.
Palavras-chave: Terra. Sertões. Trabalho. Cariri.