Esta pesquisa investiga a produção do território/sertão do Ceará a partir de uma sequência de mapas produzidos no século XIX, que demarcavam as fronteiras da Província, mais precisamente os limites do sertão do Ceará. Esta proposta de pesquisa busca compreender os exercícios de poder em que foi constituída/desenhada essa porção da nação, nos oitocentos, a partir da produção de uma consciência do espaço geográfico nos desenhos cartográficos; em que medida esse território, como num palimpsesto, foi demarcado enquanto instrumento aglutinador de um sentimento de pertencimento à nação – que apagava a presença indígena – e instituía as fronteiras para a escrita da História do Ceará, e até que ponto o desenho de linhas político-administrativas de um território forjava os autores dos mapas e no âmbito da administração da Colônia e, mais tarde, do Império. Aqui importa estabelecer um esforço de estudo que ultrapasse a concepção do território como espaço vazio, percebendo as diversas formas de relações estabelecidas entre grupos humanos e os demais componentes de um mundo natural. É preciso voltar aos mapas e documentações diversas sobre a produção do território cearense: estudar os jogos de poder por trás das linhas e palavras escritas, dos interesses e disputas pelas terras e propriedades, pelos recursos hídricos, pela gente (mão de obra) e pelos recursos que se esperavam encontrar no território. Mas também dos jogos de poder que envolviam o estabelecimento do Ceará (cuja colonização se deu somente em fins do século XVIII) como espaço a ser incorporado/confirmado ao mapa do Brasil. É preciso, então, estudar com quantos riscos se faz um território ou com quantos traços se fez o Ceará.
Palavras-chave: Ceará. Mapas. Território. Propriedade. História.