Mazagão. Mais de duas mil vidas compuseram este nome na segunda metade do século XVIII. Vidas que foram deslocadas de uma praça-forte homônima situada no norte da África, atual Marrocos, para outro norte: o Grão-Pará. Houve uma evacuação da fortaleza no ano de 1769, por articulação e decisão de Francisco Xavier Mendonça de Furtado, então secretário de Estado de Marinha e do Ultramar. Dentre as razões para esta ordem, brevemente evidenciamos duas: o cerco militar iniciado pelo sultão mouro Mulah Mohamed, para expulsar os mazaganistas de sua fortaleza, e a ocupação e defesa territorial do Cabo do Norte, com a criação da vila Nova de Mazagão. Partindo da praça-forte, pararam em Lisboa, em 1769, logo prosseguiram para Belém, onde houve mazaganistas aguardando por mais de oito anos pela transferência para vila de Nova Mazagão, desde a chegada. Essas pessoas trouxeram consigo as suas vivências, suas formas de sobrevivência e trabalho, que foram adquiridas e desenvolvidas desde a presença de seus antecessores na fortaleza, na primeira metade do século XVI, e foram introduzidas compulsoriamente no Vale Amazônico, que logo se apresentou como um lugar desconhecido, impróspero e, segundo os próprios mazaganistas de “repugnância”. Foi necessário um processo de adaptação à forma de viver e trabalhar dessas pessoas na capitania do Grão-Pará. Posto isso, o objetivo desta pesquisa em andamento é comparar o perfil de ocupação e a posse de escravizados dos mazaganistas de quando imigraram em 1769 e de quando estavam em Belém e em Nova Mazagão em 1778, uma vez que o projeto de rizicultura implantado por Portugal exigiu uma mão de obra que os moradores de Mazagão, provenientes de uma forte cultura militar em sua antiga fortaleza, se adaptaram e desenvolveram para sobreviver no novo assentamento. Para além deste fator, nota-se um aumento na posse de escravizados destes súditos no decorrer do estabelecimento em Nova Mazagão e a insistência de permanecer na cidade de Belém. Nesse sentido, a metodologia utilizada visa cruzar dados levantados de produções bibliográficas contemporâneas e dados retirados de documentos produzidos na evacuação da praça-forte, no transporte de Lisboa para Belém, no aguardo da transferência para vila nova e no recenseamento na própria Nova Mazagão. Nosso viés investigativo conversa diretamente com a microanálise, ao valorizar um jogo de escalas, em que o processo macro-histórico de ocupação e exploração desenvolvido no reinado de D. José I ganha novos sentidos na redução da perspectiva analítica, na medida em que se trabalha os dados desses moradores.
Palavras-chave: Mazagão. Trabalho. População. Migração. Amazônia.
Maycom Cristyan
em resposta ao Trabalho
Interessante jogo de escala e da análise entre as funções em Mazagão Marroquina e as que tinham na Amazônica