Sob as diretrizes do Marquês de Pombal, que visava fortalecer a presença de Portugal no Brasil, a Coroa recebeu instruções para transferir uma de suas possessões para esse novo território. Mazagão, localizada no norte da África, em Marrocos, foi escolhida para tal empreendimento. No ano de 1769, a transferência foi efetuada, levando consigo aproximadamente 469 famílias para a nova terra brasileira. Mazagão fez uma breve parada por Belém em 1770, desembarcando no Amapá em abril de 1771, marcando a instalação das primeiras famílias na região. Eugenia Maria, uma mulher de 45 anos oriunda da antiga fortaleza, chegou com seus dois filhos, desempenhando um papel fundamental nesse empreendimento português ao ser a primeira família a habitar a região. A jornada de Eugenia teve início em 1769, a bordo do N. Sra. Mercês da Companhia, um dos navios encarregados do transporte dos mazaganenses para Lisboa. Ela foi deslocada com seu marido, Lourenço Rodrigues, de 50 anos, que serviu na artilharia e foi ferreiro na guerra entre Portugal e os Marroquinos pelo controle da região. Em 1778, a família, inicialmente composta por oito pessoas, perdeu mais da metade de seus membros. Após ficar viúva, Eugenia liderou seus dois filhos na missão de povoar um território hostil, distante de sua antiga terra natal e com um clima úmido amazônico, muito diferente do clima da região de origem, o que influenciou significativamente sua adaptação e atividade laboral. Ao contrário da maioria das famílias envolvidas na lavoura, Eugenia fazia parte de um grupo de mazaganenses que vieram como chefes de sua família. Viúvas, senhoras, chefia femininas dedicadas a zelar sua prole. Mulheres que exerciam funções ligadas ao cultivo ou à tecelagem de algodão, uma importante atividade para a sobrevivência da família. As adaptações desse contingente influenciaram a construção da comunidade em Macapá, agora enfrentando o clima amazônico e as dinâmicas da nova terra. A herança luso-marroquina se manifestava no ofício de Eugenia e de outras mulheres mazaganenses, e entender essas chefias femininas colabora para aprofundar as conversas acerca do cotidiano distante daquela comunidade em Nova Mazagão. Dessa maneira, a metodologia utilizada visa extrair informações dos documentos relacionados à retirada do povo mazaganense, como mapas de relações familiares e autojustificações, com o propósito de além de entender as atividades de Eugenia e outras mulheres do povoado, analisar os reflexos culturais que influenciaram as atividades do provenientes da África, principalmente ao adotar o princípio da Física ao entender que todo corpo em lançamento tem trajetória, e entender essas caminhadas a partir das mulheres e compreender parte desse deslocamento da herança luso-marroquina na Amazônia.
Palavras-chave: Mazagão. Trajetória. Mulheres.
Allan William Lebrego da Costa
em resposta ao Trabalho
O autor fez um ótimo uso das fontes disponíveis, traçou muito bem seu objetivo na pesquisa e realizou uma boa apresentação.