Resistência e burocracia: uma análise das documentações referentes à Revolta do Pinto Madeira (Cariri, 1831-1832)

Publicado em: 05/03/2024
Autor(a) principal: Letícia Camurça Vieira
Co-autor(es): Samuel Melo de Moura
Orientador(a): Ana Sara Ribeiro Parente Cortez Irffi
Área temática: História e Política

Esta pesquisa analisa a chamada Revolta do Pinto Madeira e o seu “exército” de cabras, evento que ocorreu na região do Cariri entre os anos de 1831 e 1832. O estudo tem por objetivos compreender as motivações sociais e políticas desse conflito, especialmente dos homens que ficaram conhecidos, após a revolta, como cabras – trabalhadores escravizados, libertos, livres e pobres – e identificar como a sedição foi retratada na documentação oficial da época. Essa é uma análise feita por meio de arquivos da Capitania da Província do Ceará, entre as décadas de 1820 e 1840, os quais são pesquisados no Arquivo Público do Ceará. Os registros são analisados, transcritos e utilizados como base para as discussões sobre o período. Até o momento, foram trabalhados documentos relativos às desordens ocorridas na Capitania do Ceará no ano de 1829 e Registros de Correspondência da Capitania, entre os anos de 1835 e 1843. Além disso, estão em processo de transcrição ofícios destinados aos militares da Província, os quais contribuíram para o esclarecimento da visão governamental sobre a Revolta, indicando a destinação de forças militares para o combate às tropas de Pinto Madeira, bem como uma insatisfação com a defesa do governo cearense aos revoltosos. Ademais, é realizada uma revisão historiográfica acerca do conflito, a partir de artigos e teses voltadas para o tema. Após tais análises, foram percebidos, na revisão historiográfica, fatores que colocaram a população pobre e trabalhadora do Cariri Cearense em situação de extrema vulnerabilidade a partir dos anos 1820, o que motivou a revolta contra os senhores e o Governo. São esses: a seca da década de 20, a epidemia de varíola na região e o recrutamento dos sobreviventes desses eventos para a Guerra da Cisplatina. Com a investigação e discussão dos ofícios da Província do Ceará foi possível identificar nos documentos oficiais uma escrita que tem por objetivo tratar o “exército” de Pinto Madeira como vilão, sendo recorrentemente empregados termos como “malfeitores”, “malvados”, “assassinos” e “anarchistas”. As revisões feitas proporcionam compreender que existia uma população precarizada pela fome, a doença e a guerra e que utiliza a revolta como forma de reivindicar seus direitos, ao passo que a documentação oficial revela uma tentativa de controlar essas massas por meio de uma criminalização cívica e moral das suas ações.

Palavras-chave: Pinto Madeira. Cabras. História do Ceará. Movimentos camponeses.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *