A Rua do Sampaio uma rua transgressora por excelência

Autor(a) principal: Edson Alves do Nascimento
Co-autor(a): -

Por ocasião da chegada da primeira boate a rua Governador Sampaio, na segunda metade dos anos cinquenta, por conta do alarido, o cotidiano foi sendo reformulado e rebatizado pelos populares como “a rua dos chateais”, evocada subjetivamente quando alguém se referia aos prostíbulos da via. Local de especial importância para a cultura fortalezense e para os amantes da boemia, considerado como núcleo da licenciosa fortalezense, a nossa “Lapa”. Desse modo, a “Boate 80”, tornou-se a célula-mãe da transgressão naquele reduto. Diziam que, suas mulheres, além de belas, eram famosas por seus costumes libertinos, alimentando a tradição que ali se instalou um canteiro de vícios ainda inexistente na cidade. A rua ainda conserva algumas faixadas dos antigos casarões, utilizados como armazéns e grandes depósitos de mercadorias variadas. A rua mais transgressora da cidade, iniciava a uma quadra da igreja da Sé, por onde trafegam os bondes, fazendo fronteira com a antiga região do Mercado Central. A rua, já demonstrava desde a década de 1910, ou até antes, vocação para licenciosidades de todo tipo. Diziam que era pontuada por numeras “casas suspeitas”. Era rica e variada a crônica da rua do Sampaio. No início, conhecida como “Beco da Apertada Hora”. O seu cotidiano foi reformado, rebatizado rua do Sampaio até 1890, ocasião em que recebeu o nome atual. Nos inícios dos anos trinta já era movimentada em visita do intenso comércio atacadista que ali se instalou. Calculava-se que muitas pessoas ali circulavam diariamente. Com o adensamento do velho centro, velhos casarões foram cedendo aos armazéns, ou, simplesmente, demolidos para abrir espaços aos depósitos de mercadorias variadas. Embora, fosse uma via familiar, sobretudo, bem frequentada havia fortes indícios de antros de perdição, instalados afrontadamente na via e “casas de tolerância” que recebiam “mulheres da vida”, acompanhada de clientes pego pela rua, entre outros vícios. Quando o sol da tarde já não incomodava, e a sombra e o frescor convidavam as moças a chegar à janela, notava-se que em alguns pontos, iam se tornando frequentados a certa hora da noite por supostas beldades, uma por vez. Havia queixas quanto a esses encontros escondidos, afirmavam que havia quartos com banhos que recebiam cavalheiros, controlados por mulheres que atendiam fregueses com ponta de cigarro na orelha e ceroula amarradas no mocotó. Segundo o memorialista Gustavo Barroso, houve uma história comovente, quando, uma sofrida senhora e suas filhas, ao tempo do presidente Nogueira Acioly, que morreu de desgosto, já que presenciou o destino infeliz de sua filha, que faleceu de “doença do mundo” (sífilis) nos quartos do Sampaio. Tinha-se notícia de uma viúva que era um estouro e que fazia concorrência até a uma Messalina (BARROSO: 1961, 25, 63).

 

Palavras-chave: Boemia. Lenocínio. Transgressão. Corpo. Homossexualidade.