Na última década debates e movimentações em prol da criação de uma liga profissional de clubes de futebol têm sido suscitados no Brasil com certa frequência, muito em decorrência da crise institucional gerada na CBF em razão dos escândalos envolvendo os últimos presidentes da entidade. Tal horizonte traz a recordação do primeiro movimento de clubes brasileiros em torno de uma liga independente. Em 1987, a chamada Copa União foi o resultado da crise que levou a CBF a assumir a impossibilidade de organizar o Campeonato Nacional daquele ano. Num arranjo envolvendo os treze clubes de maior torcida do país – congregados no recém-criado Clube dos 13 – a Rede Globo e um conjunto de empresas dispostas a investir no futebol brasileiro. Ali se confirmava que o futebol brasileiro já não era somente um movimento político, mas também empresarial. Pois o discurso adotado pelos dirigentes desses clubes e por boa parte da imprensa do eixo Rio-SP era que a proposta do Clube dos Treze “pretendia ‘revolucionar’ o futebol brasileiro por meio da utilização de procedimentos mais ‘empresariais’ (GIGLIO; SANTOS, 2021, p. 46)”. Junto a isso, a aprovação da lei das SAFs em 2021 corrobora o discurso de inserção do empresariado no futebol, sobretudo nos níveis de gestão esportiva, marcados pela estrutura associativa. (SIMÕES, 2023, p. 432). O objetivo da pesquisa é debater academicamente sobre o campo dos dirigentes, esfera que vem crescido em estudos nos últimos anos, (MARCOLAN, 2022) como um espaço atuante e primordial para o desenvolvimento do empresariado no futebol brasileiro, pensando como esse processo marca uma continuidade das relações políticas estabelecidas durante a ditadura civil-militar brasileira. Metodologicamente, teremos como base os estudos de sociologia dos esportes desenvolvidos por Pierre Bourdieu. Sendo o nosso trabalho voltado para a categoria de diligência do esporte, as análises bourdieusianas do campo esportivo como um como “um sistema de disposições constituído e acionado consensualmente no sentido de classificar e distinguir, aproximar e distanciar objetivamente indivíduos e grupos no ‘espaço social de possíveis’,” (MARCHY JÚNIOR; SOUZA, 2017, p. 251) converge diretamente com a percepção apontada por Luiz Burlamaqui de que as organizações esportivas são espaços com número limitado de membros, em que se distribuem e articulam poderes, com marcas hierárquicas bem definidas. (BURLAMAQUI, 2013, p. 26) Além disso, a partir da formulação teórica de Bourdieu de uma sociologia do esporte que não reduza-se em si mesmo, reforça o proposto no trabalho de a partir das configurações do mundo do esportes, evidenciarmos os procedimentos adotados pela sociedade. Indicando como o caminhar empresarial do futebol é uma continuidade do implementado na sociedade como um todo e na política em específico.
Palavras-chave: Futebol Brasileiro. Empresarização. Dirigentes Esportivos. Ditadura Civil-Militar.