Espionagem e censura, por vezes, moveram-se juntas, de forma colaborativa e complementar, orientadas a partir de um mesmo objetivo: combater supostos entraves à estabilidade da ditadura militar. Nesse sentido, a presente comunicação se propõe a analisar as articulações entre a comunidade de informações e o aparato censório vigente no período em torno da programação televisiva, mais especificamente da produção da TV Globo, entre os anos de 1970 e 1980. Preocupados com os efeitos da “influência comunista” no meio televisivo, órgãos como o Sistema Nacional de Informações (SNI) e os centros de informação da Aeronáutica (CISA), Exército (CIE) e Marinha (CENIMAR) produziram diversos documentos, especialmente informes e dossiês, sobre o assunto, operando sistematicamente sob o lógica da suspeição, de acordo com a qual tudo e todos eram encarados como ameaças em potencial ao regime (MAGALHÃES, 1997). Acusada de abrigar comunistas notórios entre seus funcionários, a emissora de Roberto Marinho tornou-se alvo frequente dessa investida, motivando consecutivas pressões dos órgãos de vigilância sobre a censura. Considerando que o exercício censório não era monopólio de apenas uma instância do organograma estatal, mas estava disperso em âmbitos diversos da repressão, nos apoiamos no conceito de “supercensura”, a fim de entender o papel de outros agentes e agências nesses processos (GARCIA, 2019).
Palavras-chave: Comunidade de Informações. Censura. TV Globo.