A seca de 1877 e os tipos: Adolfo Caminha e Rodolfo Teófilo e a querela sobre a verdade e o ficcional

Autor(a) principal: José de Arimatéa Vitoriano de Oliveira
Co-autor(a): -

Sendo a seca um assunto que perpassa a produção literária e historiográfica local, a partir do final do século XIX, vamos destacar a divergência referente à representação desse fenômeno climático que envolveu dois importantes nomes das letras cearenses na última década do século XIX, sendo estes Adolfo Caminha (1867-1897) e Rodolfo Marcos Teófilo (1853-1932). A querela entre ambos se inicia após a crítica feita por Teófilo, publicada em 1895 no Jornal “O Pão”, órgão da Padaria Espiritual, à obra “A Normalista”, de Caminha, mais especificamente a caracterização do personagem Bernardino de Mendonça. Tal personagem, ao sentir os efeitos da estiagem de 1877, decide-se por partir, com toda a família, rumo à capital, ao final daquele ano. Teófilo crítica a atitude de Mendonça, de não resistir e partir de sua terra sem perseverar mais, indicando que isso não seria “natural” ou algo considerado como “tipicamente cearense”, não representando, assim, o habitante do sertão, denotando, então, a falha de Caminha em transpor a realidade para sua obra ficcional. Teófilo contrapunha em sua crítica o protagonista de seu romance “A Fome”, Manoel de Freitas, descrito como persistente e resignado e que, somente depois de lutar contra os rigores da natureza, “até perder a carne do corpo e a paz do espírito e depois desiludido do inverno de 1878 e sem mais recursos no sertão”, é que optara por retirar-se de sua terra. Desse modo, e analisando a resposta de Adolfo Caminha, para quem Teófilo, em sua obra sobre a seca, “não conseguiu dar senão páginas sem estilo, sem arte, sem verdade às vezes”, lançamos mão dessa divergência, destacando a percepção dos referidos autores em relação à realidade e suas formas de descrição literária, indicando-se a estreita correlação deste tipo de narrativa com a história, a verdade e a realidade, o que nos leva a analisar, ainda, a produção historiográfica de Teófilo sobre a seca, que lhe possibilitava descrever o vivenciado com a autoridade de quem escreveu aquilo que presenciou. Sendo assim, ao analisar a querela entre os dois autores mencionados, podemos discutir as conexões entre literatura e historiografia e as representações da história nessas duas formas narrativas, buscando perceber, a partir das indicações contidas nas críticas lançadas por ambos, o contexto da produção intelectual no Ceará entre o final do século XIX e o começo do XX.

 Palavras-chave: Literatura. História. Seca. Narrativas.