O tombamento, instituído pelo Decreto-lei n° 25 de 30 de novembro de 1937, se concretizou como um instrumento de preservação do patrimônio material histórico e artístico. Em função disso, compreendemos que esse instrumento, também, se consolidou como dispositivo legal da intervenção intelectual na organização do espaço urbano das cidades brasileiras, sobretudo, a partir da década de 30 do século XX. Entretanto, outros mecanismos de preservação do patrimônio foram estabelecidos por intelectuais que atuaram na organização do espaço urbano brasileiro no período da Primeira República (1889-1930). No caso do Ceará, o Instituto do Ceará foi o principal órgão na defesa do patrimônio histórico e artístico estadual. Preocupados com a preservação da memória cearense e intencionados em formular a narrativa histórica do estado, os intelectuais que ocuparam a academia de história e geografia regional promoveram discursos que privilegiavam a conservação de edifícios e documentos históricos e arqueológicos, assim como defenderam o erguimento de monumentos comemorativos. Dessa forma, nosso objetivo é analisar a atuação intelectual dos sócios efetivos do Instituto do Ceará na construção de uma cidade ideal entre os séculos XIX e XX, sobretudo, entre 1887 (fundação do Instituto do Ceará) e 1956 (fundação da escola de engenharia ligada a Universidade do Ceará, fundada em 16 de dezembro de 1954). Desta maneira, podemos contribuir na discussão em torno das práticas que foram adotadas para promover a formação de uma cidade moderna ideal para esses intelectuais, ou seja, que promovesse a modernização das estruturas urbanas cearenses ao mesmo tempo em que se defrontasse com a conservação do passado e da memória cearense. Dessa forma, problematizamos, historicamente, conceitos como o de “urbanização” e “patrimônio” através do processo de eleição do que poderia ser conservado ou destruído pelos intelectuais do Instituto do Ceará.
Palavras-chave: Espaço Urbano. Patrimônio. Instituto do Ceará.