O Riacho Maceió, símbolo da paisagem natural local e do pertencimento dos moradores do bairro Mucuripe, perpassa a orla de Fortaleza-CE, na Av. Beira-Mar, bem como áreas limítrofes de bairros como Varjota, Papicu e Meireles. Devido à sua localização e interesse mercadológico sobre ele, sofreu intenso processo de especulação imobiliária e disputas nas pautas políticas, memoriais, urbanas e ambientais, seja por parte do poder público, privado ou pela sociedade civil, haja vista que no final do século XX o avanço do “Turismo do sol” sobre a orla exigiu um padrão internacional de consumo, equipamentos culturais, transporte e hotéis de alta classe. A pesquisa realizada no mestrado do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal do Ceará sobre o Riacho Maceió com recorte temporal no final do século XX destacou as diferentes tensões e disputas sobre a memória, o direito à cidade e o patrimônio cultural. Os múltiplos atores sociais entrelaçados pelas políticas culturais e urbanísticas analisados colocam em jogo as narrativas sobre o passado e futuro, estabelecendo um marco com relação à compreensão sobre o patrimônio cultural, atuação e articulação de movimentos sociais compostos pelas associações locais, o movimento ambientalista e intelectual de Fortaleza. Dessa maneira, destaca-se a relevância do ofício da história para o campo patrimonial ao investigar, através da operacionalização do conceito de patrimônio ambiental urbano, distintos aspectos sociais, políticos, urbanos e históricos relacionados ao Riacho Maceió e as fontes analisadas. A pesquisa utilizou uma abordagem metodológica de entrecruzamento de fontes periódicas da grande e pequena imprensa, leis, projetos de leis, decretos, panfletos, entrevistas e de documentos oficiais referentes à organização urbana e o ordenamento da cidade. Em suma, além dos habitantes buscarem defender as suas memórias, afetividades e interesses no e pelo riacho, a luta pela sua preservação representou também as tentativas dessas pessoas em permanecer no bairro e que outras camadas sociais pudessem integrar-se “à cidade turística”, ou seja, reivindicar o direito à cidade. A investigação da Fortaleza turística sob a questão do Riacho Maceió suscita novas interpretações do passado através das demandas ambientais do tempo presente e as disputas identitárias sobre o que é o Mucuripe, seus moradores, tradições, afetividades e práticas, demonstrando assim a incapacidade das mudanças urbanísticas, econômicas e culturais, promovidas através do turismo, de sanarem os problemas sociais, patrimoniais e ambientais intensificados ao longo desse processo histórico. Essa pesquisa vincula-se ao Grupo de Estudo e Pesquisa em Patrimônio e Memória-GEPPM/UFC/CNPQ e possuiu financiamento da CAPES.
Palavras-chave: Patrimônio ambiental urbano. Memória. Turismo. Mucuripe. Riacho Maceió.