Os arquivos são espaços de memória da sociedade centrais para a produção do conhecimento histórico. O objetivo deste trabalho é refletir sobre arquivos dedicados a cultura popular nacional na América latina, especialmente o lugar que passados marcados pelo dilema da “civilização e barbárie” ocupam neles, a fim de sinalizar alguns desafios e possibilidades de pesquisa histórica. Diante da herança de violência que envolve o tema ao longo do século XX, especialmente quando se trata de passados de bandoleiros rurais, defendo o argumento que historicizar o conceito de “povo” em conflito entre percursos do folclore e do patrimônio permite explicar usos políticos deste passado em dimensão integradora, polarizadora e conciliadora na cultura histórica e historiográfica. A partir de um diálogo entre a Teoria da História e os Estudos da Memória, faço uma análise transnacional de vestígios de arquivos da cultura popular no Chile, Argentina e Brasil. Observo, respectivamente, conexões de rastros entre os arquivos do “Museo de Arte Popular Americano” (MAPA), do “Museu de Arte Popular José Hernández” (MAP) e do “Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular” (CNFCP). Os resultados da investigação têm sinalizado que muitos protocolos arquivísticos nesses espaços carregam implícitas noções de tempo histórico. Nesse itinerário, faz pensar como os arquivos operam tanto transmissões de memórias na sociedade quanto impactam nas condições de produção de escritas de história sobre passados bastante presentes na arena pública.
Palavras-chave: Teoria da história. Estudos da memória. Arquivo. Cultura Popular. América Latina.