O objetivo deste estudo é analisar a relação entre os portos brasileiros e a disseminação de doenças infectocontagiosas entre o final do século XIX e o início do século XX. Sabe-se que eles desempenharam historicamente um papel estratégico na economia e no cotidiano do Brasil, sendo os principais meios de transportes de carga e de pessoas até meados do século XX. Convertendo-se num grande centro de circulação de pessoas, os portos se tornaram lugares propícios para a disseminação de doenças infectocontagiosas no país, como o cólera morbus (1862-64), varíola (1877-79), febre amarela (1880), peste bubônica (1900) e gripe espanhola (1918-1919). Tais doenças tiveram um impacto profundo nas operações portuárias e na sociedade de forma geral, exigindo respostas imediatas e medidas importantes das autoridades de saúde. A falta de protocolos sanitários e de medidas preventivas consistentes permitiu a rápida disseminação de diversas comorbidades, impactando comunidades e desafiando os sistemas de saúde. A precariedade das condições de infraestrutura nos portos e a falta de recursos médicos adequados agravaram a situação, denunciando a necessidade urgente de melhorias nas práticas de controle sanitário. Doenças epidêmicas, entre outros, afetaram o Brasil, causando problemas financeiros, sanitários e sociais. As doenças, especificamente, impactaram a mão de obra, levando à imposição de quarentenas e aumentando os custos de desinfecção dos navios. Além disso, houve a propagação de adoecimento e mortes, tornando-se um problema de saúde pública. No Brasil, desde o século XIX, medidas foram implantadas para combater a disseminação de enfermidades infectocontagiosas nos portos. Nesse sentido, foram criados diversos decretos que alteraram a organização e as funções da Inspetoria Geral de Saúde do Porto do Rio de Janeiro, cujo objetivo era lidar com as novas demandas e combater as epidemias. A preocupação com os portos como porta de entrada e circulação de doenças também foi pauta de congressos e conferências na América Latina. Os dois primeiros eventos, ocorridos em 1873 e 1887 nas cidades de Montevidéu e Rio de Janeiro, respectivamente, sucederam no contexto do Império do Brasil e das Repúblicas do Uruguai e da Argentina. Participante ativo e signatário destas convenções, o Brasil assume o compromisso de promover uma reformulação na administração dos serviços de saúde de seus portos marítimos e fluviais. Oswaldo Cruz, ao assumir a chefia da Diretoria-Geral de Saúde Pública do país (DGSP) em 1902, declara que sua prioridade na saúde pública seria a organização da defesa sanitária dos portos brasileiros. Movido por este propósito, empreende em 1905 e 1906 uma expedição aos portos com o intuito de fazer um diagnóstico de suas estruturas e proposição de melhoria dos mesmos. A presente pesquisa terá como fontes jornais, relatórios dos presidentes das províncias e documentos da biblioteca virtual Oswaldo Cruz/Fiocruz.
Palavras-chave: Portos. Doenças infectocontagiosas, Oswaldo Cruz