O presente trabalho tem como objetivo analisar a continuidade das práticas de cura popular baseadas em conhecimentos ancestrais dentro do cenário de inserção de médicos diplomados e da medicina dita oficial na cidade de Belém, durante a virada do século XIX para o século XX. Diante do novo ideal modernizador e com a recente concepção republicana tornou-se necessário para o poder público transformar e modernizar a capital paraense proibindo atividades vistas como irregulares, incluso o ofício dos pajés e curadores. O objetivo do trabalho consiste em analisar o impacto das transformações socioculturais e médico higienistas que interferem em outras práticas de cura que não seja a medicina dita oficial, considerando o momento de mudanças entre os costumes e modos de vida que regiam a província e a sua transição para a República. Uso como fonte os principais jornais que circulavam na época através de uma metodologia micro-histórica, realizando uma análise minuciosa das fontes utilizando ao máximo as informações obtidas nas notícias e nos discursos contidos nos periódicos. Como resultado foi observado que a presença da pajelança nos primeiros anos da república está relacionada com a formação das manifestações de religiosidade, juntamente com saberes da cura indigena ancestral atrelados a presença do catolicismo popular e de religiões de matriz africana, que formam um conjunto de peças importantes para os indivíduos constituindo elementos culturais intrínsecos na sociedade. Por fim, busquei contribuir com a historiografia existente sobre o assunto dialogando com religião e cultura, evidenciando os sujeitos atuantes como curadores e feiticeiros que por vezes são esquecidos ou apagados da história, mostrando seus percursos, seus movimentos de proteção e o porquê da continuidade da prática de cura popular no cotidiano da população belenense.
Palavras-chave: Práticas de Cura. Feitiçaria. Pajelança. Medicina.