Ao longo do século XVIII, surgiram nas capitanias do Siará Grande, São José do Piauí e Rio Grande do Norte, alguns núcleos portuários conhecidos pelo coletivo de “portos do sertão” que tiveram grande destaque no período pela exploração de atividades de produção e comércio de carnes salgadas. Tais núcleos correspondiam a verdadeiros empórios que, por meio da exportação de carnes e couros, conectavam importantes regiões de criatórios dos denominados Sertões do Norte da América portuguesa a alguns dos principais núcleos da colônia como: Recife, Salvador, Rio de Janeiro, Belém e Colônia do Sacramento. Ao considerarmos que o consumo de carnes salgadas no século XVIII encontrava-se fortemente vinculado a demandas associadas a dinâmicas decorrentes de movimentações no espaço atlântico – como o abastecimento de embarcações negreiras e a alimentação de importantes parcelas da crescente população cativa de origem africana na América portuguesa – a presente comunicação tem como objetivo destacar a dimensão atlântica da pecuária voltada à produção de carnes salgadas desenvolvida nos portos do sertão ao longo do século XVIII. Como uma das bases para nossa discussão nos utilizaremos da análise das redes de relações estabelecidas por alguns dos principais negociantes associados a este comércio em meados do século XVIII para destacar que as atividades desenvolvidas nos portos do sertão, além de terem sido fortemente desenvolvidas a partir dos interesses de grandes negociantes da praça do Recife, estavam fortemente associadas a interesses relacionados à exploração do trato negreiro movido a partir dos principais portos do Estado do Brasil.
Palavras-chave: Carnes salgadas. Comércio. Espaço atlântico.