Conhecido pelo período da “grande seca”, o triénio de 1877 a 1879 foi marcado por notícias que circulavam na capital do império sobre as cenas, em tom alarmante e com descrições das misérias que a província do Ceará e suas gentes estavam submetidas, onde as paisagens e corpos retirantes se confundiam com o uso do adjetivo “ressequidos”. Para reforço e comprovação dessa forma de noticiar a seca e suas consequências para os sobreviventes do Ceará, uma série de fotografias de aspecto dantesco – em formato cartes-de-visites – foram produzidas em Fortaleza pelo fotógrafo retratista Joaquim Antonio Corrêa a pedido do jornalista José do Patrocínio e enviadas para o jornal Gazeta de Noticias, onde serviu de base para uma ilustração da folha ilustrada O Besouro. Para Durval Muniz (2017), romancistas, jornalistas e artistas produziram uma imagem do norte seco que transita entre temporalidades, onde os termos de menção as províncias do norte possuem um “arquivo imagético” e um modelo narrativo que salta de obra em obra no que o autor denomina de “agregado sensível e significativo chamado seca”, assim como a existência de imagens ligadas ao naturalismo e teorias racias hieraquizantes entre brancos, negros e mestiços. Diante disso, a apresentação buscará discutir a tipificação dos retirantes com as imagens e as descrições, especificamente as fotografias de Joaquim Antonio Corrêa, e a forma como os sujeitos são representados. Iremos ler e problematizar as imagens e seus usos sob a ótica dos conceitos: “figurabilidade” de Georges Didi-Huberman (2013) e “dispositivo” para Giorgio Agamben (2009) e Michel Foucault (2017); e das metodologias do “atlas” de Aby Warburg (2015) e da “montagem” de Georges Didi-Huberman (2015) para fazer conexões com as imagens de “tipos humanos” produzidas por fotógrafos como: Louis Agassiz, Felipe Augusto Fidanza e as imagens utilizadas por Alberto Henschel. Dado isso, buscaremos considerar como as fotografias mobilizaram representações – de corpos calamitosos e considerados não cívicos – para impactar as sensibilidades por meio da repetição de um modo de ver, que transita às imagens na catalisação do imaginário e estereotipificação do norte seco, e a serventia como dispositivo subalternizador pela tipificação dos retirantes nos moldes raciais cientificistas oitocentistas.
Palavras-chave: Ceará. Seca. Retirantes. Fotografia. Tipificação.