Essa pesquisa busca analisar como alguns dos principais jornais de Fortaleza, na segunda metade do século XIX, constituíram espaços e fórmulas específicas para lidar com o crime de forma a privilegiar a narratividade. Ela procura entender como a produção discursiva sobre violência e criminalidade materializou-se numa considerável diversidade de gêneros textuais nos periódicos desse período, sobretudo, a partir dos fait divers sobre crimes violentos. Para tanto, destacamos a significativa produção e circulação de notícias com temática voltada para o crime, o extraordinário e o trágico dentro do noticiário cotidiano. Intentamos perceber no crescimento desse gênero e na sua proximidade com outras fórmulas literárias do período, não apenas o desenvolvimento de um estilo narrativo, mas também a ambígua apreciação dessas narrativas macabras junto a um público leitor ainda incipiente daquela época. Desse modo, buscamos discutir como o gênero fait divers, então em ascensão dentro dos jornais, era apropriado ou apropriava-se de características, temas e fórmulas narrativas doutros gêneros textuais. Dessa maneira, percebemos a produção narrativa do crime, nesse momento, enquanto um híbrido literário e factual que se utilizava de recursos diversos para causar comoção, choque, perplexidade, entretendo, assim, um público com certo gosto diferenciado pelo atroz. Através da análise da documentação (jornais) e sua comparação com determinadas obras ficcionais da época, percebemos como se elaborava, nas folhas locais, outros usos sobre o crime e suas marcas na trama social. Entendemos, por fim, que esses relatos renovavam e reapresentavam aquele público outras formas relatar atos infames.
Palavras-chave: Jornais. Narrativa. Crime.