É intento desta pesquisa analisar as formas pelas quais se gesta a escrita da História na obra de Washington Irving, a partir de suas produções historiográficas e literárias. Disso, originam-se três questões, cardinais à realização do trabalho de pesquisa. Em primeiro lugar, dada sua formação e produção acadêmica em História, é preciso localizar, a partir de seus escritos historiográficos, as concepções e visões teórico-metodológicas engendradas na obra de Washington Irving. Em segundo lugar, problematizar o tratamento da História dentro de sua produção literária, sobretudo buscando verificar pontos de aproximação e afastamento entre a escrita literária e acadêmica de Washington Irving e as tendências historiográficas da época. Por fim, perceber, através do empreendimento de um estudo biográfico sobre o autor, a relação entre sua atividade literária e seu ofício historiográfico, implicando-os em um processo de influência mútua, construído ao longo de sua trajetória intelectual e pessoal. Decorrente de seu revelado trato com textos literários e historiográficos, embasamos nosso esforço metodológico na análise textual dos escritos selecionados para compor a panóplia de fontes. Para tal empreitada, serão abarcadas fontes de três grupos privilegiados: produções literárias, obras historiográficas e correspondências. O primeiro concentra-se na coletânea de contos e escritos reunidos pelo próprio autor, intitulada “The Sketch Book of Geoffrey Crayon, Gent.” (O livro de esboços de Geoffrey Crayon, o Cavalheiro, em tradução nossa), mas abrangendo outras coletâneas. O segundo consiste em sua produção historiográfica. Por último, a correspondência de Washington Irving com outros escritores, principalmente Edgar Allan Poe, Walter Scott e Charles Dickens. Dessa forma, concentramos nossos esforços em avaliar como a problemática da escrita da História permeia o fazer escriturário de Washington Irving, tendo sido notadas, através da análise das obras do referido autor, até o instante corrente da pesquisa, as seguintes questões: por primeiro, o estilo de Washington Irving: ao se verificar as influências culturais e seus pressupostos teóricos implicados na dinâmica de sua produção literária e historiográfica, observa-se uma aproximação de Irving com o romantismo alemão, sobretudo através de Goethe, Karl Musäus e Gottfried August Bürger. Em segundo, ao nos debruçarmos sobre o sentido do passado na sua escrita, encontramos a partilha de preocupações teóricas das quais Hayden White, R.J. Collingwood e Frank Ankersmit se dedicariam no século seguinte. Por último, a relação de sua escrita com a tradição oral e outras formas de representação do passado, sobretudo em sua produção literária, mas verificando rastros dessa influência dentro de seu texto historiográfico, sendo desnudada através de seu revelado apreço pela tradição oral oriunda das comunidades de colonos holandeses do vale do rio Hudson e de sua admiração por narradores da antiguidade clássica, como Flégon de Trales. À guisa de conclusão, observamos como uma análise cuidadosa de Washington Irving pode colaborar de forma consistente com o debate acerca da relação da literatura com a escrita da História.
Palavras-chave: Literatura. História. Washington Irving.