Desde o “Discurso do Método” (1637) a “análise” de uma parte – de um corpo ou de um fenômeno natural – passou a ser suficiente para compreender o todo: eis o DNA da ciência moderna. Essa subdivisão do conhecimento foi amplamente estudada pelos filósofos Michel Foucault e Juger Habermas, que chegaram a compreensões complementares de que a ciência moderna foi um “saber-poder” muito utilizado pelas potências ocidentais para transformar seus conhecimentos numa ideologia chamada “verdade”. A partir de então, “verdade” passou a ser apenas o que poderia ser “verificado” e objetivamente narrado. Só a partir da década de 1960, Thomaz Huhn e Bruno Latour começaram a explicar e a quebrar esse “paradigma”, respectivamente. O objetivo da presente comunicação oral é apresentar algumas abordagens teóricas e alguns procedimentos metodológicos que venho lançando mão, nos últimos anos, nas minhas pesquisas, para quebrar com essa “estrutura” e, assim, cruzar dados aceitos como de manipulação exclusiva das ciências exatas com outros aceitos como típicos das ciências sociais – sobretudo, História, Sociologia, Ciência Política e Economia. Dessa forma, a problemática a ser apresentada será: como, a partir da problematização de dados pluviométricos produzidos pelo Ministério da Agricultura e o Departamento de Obras Contra as Secas e relatórios econômicos produzidos por técnicos do Banco do Nordeste do Brasil, é possível compreendermos as razões de a seca de 1958 ter passado para a história com uma das maiores do século XX?
Palavras-chave: Seca. Ciência moderna. Verdade. Multidisciplinaridade.