Pensar a escrita da história é algo recorrente para os historiadores e as historiadoras. Aqui busco problematizar o modo como Joel Rufino dos Santos produziu uma historiografia no tempo da “redemocratização” do Brasil, entre 1979-1985. Para isso, parto de três obras do autor: O dia que o povo ganhou(1979), O soldado que não era (1980) e Zumbi (1985), sendo que cada um desses livros integra um gênero diferente de texto do escritor, passeando da “biografia” até a “literatura infanto-juvenil”. Porém, existe um fio que conduz a escrita de Rufino naquele período, a preocupação de contar a história do Brasil, por isso ele elege acontecimentos e figuras históricas como cerne de sua narrativa. O dia que o povo ganhou é voltado para contar a independência do Brasil, mas tendo como personagens principais as figuras populares e como marco temporal o 2 de julho de 1823; O soldado que não era é um livro “infanto-juvenil” que narra a vida de Maria Quitéria de Jesus, considerada uma das heroínas da luta popular de independência no estado da Bahia; Zumbi é uma biografia do herói que dá nome ao livro, só que voltada também para falar do Quilombo dos Palmares. Ao tramar a história em múltiplos gêneros, ele também parece demonstrar interesse em inserir na sua escrita fatos, sujeitos e acontecimentos postos nas “sombras” pelos historiadores, ou seja, ao narrar o passado dessas “sombras” ele estaria tensionando a produção historiográfica do momento de “redemocratização”? É preciso salientar que mais do que trabalhar com personagens e datas diferentes, na verdade, a operação de escrita de Joel Rufino dos Santos transita entre uma operação histórica e uma operação ficcional. Para o autor não bastava trabalhar com fatos, sujeitos e acontecimentos diferentes, era necessário buscar um modo de escrever história de modo mais inclusivo, tanto é que ele o fez em diversos gêneros literários diferentes, mas sem nunca deixar que sua operação fosse também historiográfica. Assim, ao tomar estes conteúdos históricos – personagens, revoltas, fontes, etc. – e tramá-los com ficcionalidade em um momento no qual se discute o processo de redemocratização no Brasil, Joel Rufino dos Santos parece se questionar sobre a possibilidade de transformar a História do Brasil (com H maiúsculo) em algo também democrático. O autor parece sugerir que isso só é possível se a História se tornar história (com h minúsculo), ou seja, não basta uma história da democracia é preciso tornar democrática a escrita da história. E parece que, para Rufino, isso só é possível pela ficção.
Palavras-chave: Redemocratização. Joel Rufino dos Santos. Escrita da História.