No ano de 1915, a África de Sudoeste Alemã (atual Namíbia) é invadida por tropas militares sul-africanas que acabam por controlar a região no contexto da Primeira Grande Guerra. Em 1919, com a assinatura do Tratado de Versalhes, a Alemanha perderia oficialmente todos os seus mandatos coloniais que passariam a ser gerenciados pelos países da Liga das Nações. Nesse contexto de intensa rivalidade entre os países, vê-se surgir um importante documento utilizado como “prova” de que a Alemanha havia gestado uma colonização excessivamente violenta e que, pelo “bem dos povos colonizados”, ela não poderia ter seu poder colonial restaurado. O Relatório sobre os nativos da África de Sudoeste e seu tratamento pela Alemanha, ou simplesmente, o Blue Book de 1918, afirmava trazer evidências concretas dos maus tratos e abusos que os colonizadores alemães haviam submetido os sujeitos coloniais desse território. Dentre tais evidências, uma dezena de testemunhos orais dos sobreviventes hereros da Guerra Colonial de 1904 a 1908, episódio que ficou conhecido mais tarde na historiografia como o primeiro genocídio do século XX. A partir deste contexto, o objetivo desta comunicação é compreender os testemunhos a partir de duas chaves de leitura: em um primeiro momento, nos importa entender o lugar destes testemunhos em um documento diplomático colonial, já que o espaço dado às vozes africanas neste tipo de documentação se configura como algo singular; em um segundo momento, nos importa pensar como a gestão britânica/ sul-africana da África de Sudoeste utilizou tais testemunhos para validar a construção de uma narrativa antigermânica no pós I Guerra Mundial.
Palavras-chave: Colonialismo. Genocídio. África de Sudoeste. Hereros.