Memória do Indivíduo, Memória da nação. O discurso historiográfico de Gustavo Barroso nas narrativas biográficas publicadas entre 1928 e 1945

Autor(a) principal: Erika Morais Cerqueira
Co-autor(a): -

O objetivo será analisar o discurso historiográfico de Gustavo Barroso presente nas narrativas biográficas elaboradas pelo escritor entre 1928 e 1945. Barroso, autor de transição entre uma cultura histórica imperial e uma cultura histórica republicana, não chegou a expressar abertamente seu entendimento do gênero biográfico e, tampouco, afirmou que as narrativas aqui analisadas deveriam ser compreendidas como biografias. Declarou, na verdade, que tais relatos seriam “folclore de guerra”. Consideramos que, embora o escritor tenha definido sua prática dessa forma, não seria equivocado perceber seus relatos como exemplos de uma escrita que contém elementos próprios do campo biográfico, especialmente se levarmos em consideração o estatuto desse gênero no começo do século XX. Essa investigação parte do princípio de que, ao biografar os militares que atuaram durante o Segundo Reinado no Brasil, o escritor o fez à luz das inquietações de seu tempo, intentando construir análises históricas decifradoras e atualizadoras dos problemas nacionais. A proposta é de que a narrativa biográfica barroseana integra-se à escrita da história do Brasil, na medida em que auxilia na criação de uma ordem do tempo – o tempo da nação – e na definição de um espaço de atuação – o território brasileiro. As biografias assinadas por Barroso serão estudadas em diálogo com as experimentações que este gênero vivenciou durante a década de 1930, marcadas pela tentativa de humanização das personagens. Dessa forma, a construção do herói barroseano será analisada em estreita relação com a ideia de grande homem – noção que orientava o fazer biográfico desde o Oitocentos. Consideramos que, ao narrar a trajetória dos combatentes do passado, Barroso almejava transformar os leitores em espectadores ou “testemunhas”, oferecendo-lhes uma experiência do passado. A hipótese é de que havia uma ambição pedagógica, pois o que se acompanhava, por meio destes relatos de vida, não era tanto a evolução do caráter da personagem, mas, antes, a maneira como suas virtudes eram postas à prova em diferentes momentos. Para Barroso, interessava a singularidade do percurso individual e a exemplificação da eficácia de uma virtude, presente no grande homem, e os desastres resultantes de determinado vício, encontrado nos adversários. 

Palavras-chave: Gustavo Barroso. Biografia. Historiografia. Cultura Histórica.