Das diversas práticas de violência e violação de direitos humanos cometidas pela ditadura civil-militar entre 1964 e 1985, a violência manicomial-psiquiátrica contra aqueles considerados “subversivos” e “terroristas” pelo regime militar é pouco ressaltada pela historiografia, gerando uma lacuna a ser preenchida. Após a prisão, interrogatório e torturas, alguns presos políticos eram forçadamente internados em instituições psiquiátricas, onde o monitoramento pelos militares e as torturas continuavam (UOL, 2021). Na intenção de preencher tal lacuna historiográfica, nos propomos a investigar o caso de Sylvia de Montarroyos através do seu testemunho autobiográfico intitulado “Réquiem por Tatiana: memórias de um tempo de guerra e de uma descida aos infernos” (2013), no qual aborda as memórias de quando era militante do Partido Operário Revolucionário Trotskista (POR-T) em Recife/PE, entre os anos de 1964 e 1965, e tornou-se presa política da ditadura civil-militar na menoridade, aos 17 anos. Em formato de romance, a narrativa perpassa a prisão e as torturas sofridas por Tatiana (nome de guerra de Sylvia), que culminaram em seu internamento forçado no Manicômio Judiciário da Tamarineira. Com base no conceito de “trabalho da testemunha” de Mariana Wikinski (2021), os tipos de testemunha existentes pela perspectiva de Aleida Assmann (2023) e as considerações recentes de Márcio Seligmann-Silva (2022) sobre a importância do testemunho para a virada mnemônica e as políticas de memória sobre a ditadura, a proposta da comunicação é apresentar uma breve análise que perpassa as dimensões da violência ditatorial, focando na instrumentalização da psiquiatria pelo regime a partir do internamento de seus presos políticos; as violências provenientes da tortura e do período asilar-manicomial sofridas por Sylvia, seu consequente adoecimento psíquico e diagnóstico médico-psiquiátrico e como esses elementos determinam seu testemunho.
Palavras-chave: Sylvia de Montarroyos. Ditadura civil-militar. Violência manicomial. Testemunho. Literatura testemunhal.