Este trabalho busca responder como o intelectual sobrevivente do holocausto, Jean Améry, constrói a noção de identidade através da análise de duas de suas obras ensaísticas. Averiguando como os impactos do exílio, a perda da pátria/terra natal e como o processo da tortura, que revigora a ausência da pátria e da identidade, formaram a concepção do autor, não somente de sua própria identidade, mas de como a sociedade percebe, produz, valida e aniquila os indivíduos, suas subjetividades e identidades. Tem-se como fontes seus livros Além do crime e castigo – tentativas de superação (2013) e Revuelta y Resignacíon – Acerca del envejecer (1968). Através dessas fontes foi possível cruzar os pontos entre o trauma da experiência do holocausto e as percepções acerca das identidades de um sujeito permeado pelos traumas do passado e do envelhecimento. Este trabalho se propôs a entender as construções da noção de identidade nos impactos causado em um único sobrevivente, Jean Améry, não buscando construir definições generalizadoras do impacto do holocausto na noção de identidade de todo um grupo, mas de um único indivíduo. A metodologia para compreender tal pensamento consistiu primeiramente na leitura aprofundada dos pontos de vista sistemático e compreensivo das fontes escolhidas. Atrelado aos autores e autoras que se dedicam à pesquisa a respeito das temáticas do testemunho e da identidade, podendo citar, dentre eles, Joël Candau, Susan Suleiman e Seligmann-Silva. Outro processo integrou a leitura de artigos e livros que citam ou se dedicam de forma mais específica ao objeto desta pesquisa, Jean Améry. Tem-se assim, como resultados parciais, a percepção do papel da sociedade sobre a construção do sujeito e suas identidades. Seja durante momentos de extrema violência, como os perpetrados a Améry e a outros milhões durante o holocausto, ou durante a construção da identidade do indivíduo e o processo de expulsão da sociedade durante o envelhecimento, o sujeito está a mercê daqueles que o cercam. Ao colocarmos lado a lado as duas obras de Amery, averigua-se então que o indivíduo só se pode encontrar autenticamente no limite de sua pele, ou seja, no corpo.
Palavras-chave: Jean Améry. Identidade. Trauma. Pátria. Tortura.