Mulheres docentes, interseccionalidade e poder: deslocando fronteiras na direção de outras identidades e saberes

Autor(a) principal: Luciana Farias de Araújo Andrade
Co-autor(a): Francisco de Assis de Sousa Nascimento

O presente trabalho é parte da pesquisa de doutoramento e objetiva analisar as disputas de saber e poder a partir das trajetórias de mulheres docentes em suas interseccionalidades na primeira instituição pública de educação profissional da rede federal do Piauí, no período de 1970 aos anos 2000, considerando os processos de organização e estruturação dessa instituição em diferentes temporalidades nas dimensões sócio histórica, política, econômica e cultural. A análise tem como base conceitos de interseccionalidade desenvolvidos por Carla Akotirene (2018), Kimberlé Crenshaw (2002) e Patrícia Hill Collins; Silva e Gomes (2021) cruzando com abordagem decolonial desenvolvida por Aníbal Quijano, problematizando a “colonialidade do poder” que se afirma sobre a racialização dos sujeitos, dos povos e dos espaços que habitam (2000) e Maria Lugones que propõe a “colonialidade do gênero” como limite extremo das tensões (2008). Buscamos situar no primeiro momento a presença de mulheres negras docentes em funções de gestão em uma escola centenária marcada pela tradição e o exercício de um saber e poder tradicionalmente masculino e branco. Fontes: documentos institucionais, livros de memória, jornais de circulação local e fontes orais, reconhecendo o importante papel do oral ao revelar o “indescritível”, sobretudo na história das mulheres (ALBERTI, 2005; JOUTARD, 2000; VOLDMAN, 2006). No Piauí, a primeira escola de Educação Profissional foi instalada na capital, Teresina, em janeiro de 1909, marcada pela presença masculina na ocupação de espaço saber e poder. Em 113 anos de existência da instituição tivemos 15 homens indicados para função de Direção Geral e 1 mulher como Diretora Geral, em um cenário que as relações poder político exerciam grande influência na composição do quadro funcional das instituições públicas, sobretudo no período que antecede a Constituição de 1988. A partir da década de 1970 é permitido o ingresso de mulheres nesta instituição de educação, cursos são ofertados para o “público feminino” e aumenta a participação das mulheres como docentes de forma significativa.  Em 1994, uma mulher docente é indicada para a direção geral. Duas mulheres negras nos anos 2000 assumiram funções de gestão, Professora Áurea Santos (Diretora de Relações Internacionais) e Professora Dinalva Monteiro (Direção de Ensino). Mesmo com 10 anos de gestão da professora Rita Martins (1994-2004) com mudanças no critério de escolha da direção geral, atualmente por consulta a comunidade escolar, referendada pelo Ministro da Educação, não surgiu outra mulher que protagonizasse de forma “agenciar” interesse em concorrer e ocupar essa função de poder na instituição. Esse processo ao ser analisado como pontos que se entrecruzam tecendo cenários sociais e políticos nos revela que lugares de poder continuam preservados para o acesso masculino, e há existência de impeditivos visíveis e invisíveis que atravessam a trajetória de mulheres, sobretudo mulheres negras para alcançar espaços de poder institucionais.

 Palavras-chave: Mulheres. Interseccionalidade. Instituição pública. Poder.