Este trabalho vem com a proposta de compartilhar reflexões a respeito das possibilidades do imaginar em um contexto de temporalidade acelerada neoliberal. A provocação de Mark Fisher é conhecida: é mais fácil imaginar o fim do mundo do que o fim do capitalismo. Acrescento, entretanto, e acredito que sem causar grandes danos ao que propõe Fisher, que, em uma conjuntura neoliberal, mesmo o imaginar em si se tornou tarefa difícil. Amitav Ghosh, ao apontar a sensação de falta de saídas da crise climática, argumenta que esta acaba por revelar que a crise também é da cultura e, portanto, da imaginação. A partir destas colocações, busco perscrutar alguns porquês e arrisco-me em algumas hipóteses que não se pretendem fechadas, mas que se movimentam no âmbito das possibilidades. Parto da premissa de que o neoliberalismo precariza nossa capacidade de experimentar vivências significativas e de seu compartilhamento – fundamentos que constituem a experiência; que, ao colonizar nosso tempo, nos impede de sonhar, de imaginar e constituir memória – nos impede, fundamentalmente, de ter tempo. Em uma temporalidade acelerada, como nos fala Hartmut Rosa, a experiência é pobre e tudo adquire tons efêmeros. Retomar a possibilidade de possuir futuros enquanto projeto perpassa necessariamente pela memória e pela coletividade – em contraposição ao individualismo neoliberal, mas também pela necessidade de tomar de volta o direito de imaginar temporalidades possíveis. Para que esse movimento aconteça, é preciso que quebremos a redoma do realismo capitalista e da subjetividade neoliberal e olhemos para tudo aquilo que existe para além dela, que recusemos a sua temporalidade acelerada que nos comprime, sempre atrasados, nesse contínuo presente, e que andemos no contrafluxo, lá onde há tempo para experienciar, imaginar outras realidades, e fazer memória. Estabelecer pontos de fuga, abrir fissuras: questionar o incomensurável, o sem sentido de viver em um sonho de outro, como nos diz Fisher. Manejar narrativas, identidades, retomar subjetividades, reconhecer outras temporalidades e outras formas de se relacionar no e com o mundo, aprender a sobreviver aos fins de mundo e a habitar ruínas, como propõe Davi Kopenawa (2010) e Anna Tsing (2022), e a partir delas, fazer germinar contra-hegemonias, como muitos há muito, especialmente a partir do sul global, já vêm insurgindo. Recuperar o tempo de imaginar, sonhar, e fazer memória, é dar ao anjo da história de Benjamin a oportunidade de enfim cuidar dos mortos, é, como nos fala Thamara de Oliveira Rodrigues (2023), reconstruir e reconduzir a nossa relação com o real, reencantar o mundo a partir de um entusiasmo crítico e lembrar o caráter de possibilidade da história, porque a instância do sonhar carrega consigo a subversão e o não-domesticável da vida, a apreensão de realidades latentes, potências de transformações. Este trabalho traz a dimensão do imaginar, portanto, para que, a partir deste, possamos falar também de futuro.
Palavras-chave: Neoliberalismo. Imaginar. Temporalidades.