A década de 1960 inicia estremecendo as correntes conservadoras da Igreja Católica. O Concílio do Vaticano II (1962-1965) propunha uma mudança em direção a uma Igreja mais sintonizada com as mudanças sociais vivenciadas pelo mundo ocidental. O Brasil vivenciava um período de crise política-institucional que desembocou no golpe civil-militar de 1964, e a Igreja chega à esse momento dividida. Havia uma tensão entre os católicos conservadores e aqueles mais liberais, sintonizados com a teologia da libertação, questões de gênero, etc. Dentre as mulheres católicas conservadoras destacavam-se as Pias Uniões de Filhas de Maria que rivalizavam com os grupos de jovens atuantes da Ação Católica Brasileira. As Filhas de Maria dispunham de uma revista própria, que em 1965 completava 50 anos. “Maria”, o periódico do grupo, tinha a função de manter as Filhas de Maria sintonizadas com as pautas da atualidade, orientando ações e influenciando opiniões das leitoras espalhadas por todo o país. Declaradamente a favor do governo autoritário, a revista mantem uma cuidadosa vigilância sobre as mudanças sociais e elegeu a televisão como objeto de atenção especial. No início da década de 1960 a televisão ainda não era um veículo de massa, mas o Estado ditatorial reconhecia o potencial da televisão e não apenas investiu no fomento desse veículo, como tratou de logo em 1966 de estabelecer normas de censura para o conteúdo veiculado. Ao longo do período ditatorial (1964-1985) a televisão constituía um foco importante do Estado para fomentar a propaganda legitimadora do regime e o combate às críticas e valores contrários ao regime imposto. “Maria” também percebia o potencial da TV junto a suas leitoras, que compunham parte das parcelas mais abastadas da sociedade brasileira e, portanto figuravam entre as telespectadores dos 2,3 milhões de aparelhos televisivos em uso no país, em fins da década de 1960. Em sua coluna intitulada “Televisão” o periódico refletia sobre o veículo de entretenimento e sua influência na sociedade. Também se encarregava de resenhar os conteúdos veiculados e acusava de branda a censura do Estado quando se tratava dos conteúdos televisivos. Esta proposta de pesquisa ainda embrionária busca analisar como a imprensa feminina católica sintonizada com a parcela mais conservadora da sociedade discute a televisão, sua influência e seu conteúdo durante a Ditadura Civil militar brasileira. Perceber como essas mulheres enxergavam a televisão e seu potencial de influenciar as famílias brasileiras, para o “bem” e para o “mal”, e como pensavam os usos e abusos da programação televisiva é entender um território de disputas de poderes. A revista que durante décadas teve uma circulação mensal, por dificuldades de ordem financeira, na década de 1960 passa a ter periodicidade trimestral e a televisão ganha gradualmente mais espaço na publicação que acompanha a expansão do veículo enquanto mantém atenta vigilância a quaisquer desvios morais e ideológicos do conteúdo da televisivo. Novelas, programas de auditório, festivais, anúncios comerciais, nada escapava ao olhar vigilante da imprensa feminina que reconhecia o poder e o fascínio exercidos pelo veículo de comunicação.
Palavras-chave: Televisão. Imprensa feminina. Ditadura Militar. Igreja Católica.