A presente comunicação busca refletir e apresentar os principais eixos que orientam o projeto e execução de minha pesquisa de doutorado, que está sendo desenvolvida junto ao Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal de Minas Gerais. O objetivo geral do projeto é investigar os aniversários dos golpes de Estado durante as ditaduras militares brasileira, chilena e argentina, sob uma perspectiva comparada e conectada. A intenção é colocar em foco as políticas comemorativas implementadas pelas ditaduras nas datas de seus respectivos golpes, a saber: o 31 de março de 1964 no Brasil; o 11 de setembro de 1973 no Chile; e o 24 de março de 1976 na Argentina. O principal interesse consiste em questionar quais foram os investimentos institucionais que as ditaduras efetuaram com relação a essas datas, avaliando ainda seu impacto público e político, ou seja, quais foram os resultados conquistados. O interesse em discutir os investimentos discursivos, simbólicos e ritualísticos dos festejos, assim como, os diferentes comportamentos e atitudes sociais manifestadas no ambiente comemorativo, ensejou um estudo inserido nas discussões sobre culturas políticas, privilegiando uma abordagem comparativa e conectada, interessada não apenas em discutir semelhanças e diferenças, mas também as conexões transnacionais formuladas por esses regimes autoritários no Cone Sul. As principais fontes históricas utilizadas são compostas por notícias e manchetes provenientes de jornais da grande imprensa: Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, O Globo (Brasil); El Mercurio, La Nación, La Tercera (Chile); Clarín, La Nación, La Razón (Argentina). Esses meios de comunicação efetuaram ampla cobertura das comemorações dos golpes de Estado e mantiveram relações dinâmicas com as ditaduras, possuindo notável representatividade naquele contexto. A hipótese que orienta a pesquisa é a de que as ditaduras militares no Brasil, Chile e Argentina efetuaram investimentos simbólicos e ritualísticos com alguns traços semelhantes, que se articulam com o que postulo ser uma cultura política nacionalista-autoritária na América Latina, e conectam-se ainda a uma tradição em torno de festas e liturgias políticas situadas em um contexto transnacional mais amplo. Por outro lado, essas comemorações apresentaram especificidades derivadas das dinâmicas próprias das culturas políticas nacionais e das características daqueles regimes autoritários, acompanhando as conjunturas históricas e os traços de cada sociedade. De forma geral, pretendo compreender os investimentos e as respostas das comemorações para a construção social desses regimes autoritários a partir do influxo produzido pelas diferentes culturas políticas, aliando a abordagem nacionalista à pluralista.
Palavras-chave: Golpe de Estado. Comemorações. Ditaduras Militares do Cone Sul. América Latina. História Comparada.