O presente trabalho objetiva discutir as circunstâncias em torno de escritos de presos, pautando as dicotomias existentes entre presos comuns e políticos, a partir de textos de Abdias Nascimento e presos comuns da Penitenciária de Florianópolis. Os escritos autobiográficos de Abdias Nascimento contidos em “Submundo: cadernos de um Penitenciário” serão analisados como fonte histórica para uma história das prisões e encarceramento brasileiro, visando identificar suas potencialidades e os desafios que podem gerar. Os textos do intelectual foram desenvolvidos durante sua passagem pela Penitenciária do Carandiru – SP, na década de 1940, e possibilitam reflexões sobre o cotidiano carcerário e as noções criminológicas que ascendiam no Brasil naquele período. Foi um momento de implementação do atual código penal e de mudanças administrativas e estruturais nas instituições carcerárias brasileiras. As vinte e uma composições escritas pelo autor mesclam escritas de si e entrevistas com outras pessoas encarceradas, bem como reflexões realizadas por Abdias Nascimento a respeito da instituição e seu funcionamento. Nesta pesquisa, pretende-se comparar a realidade narrada por Abdias Nascimento com os discursos presentes em relatórios da Penitenciária de Florianópolis – SC no mesmo período, pois semelhanças são evidentes a partir de estudos sobre a instituição catarinense. Cartas e escritas de si presentes nos prontuários da Penitenciária de Florianópolis também serão uma fonte analisada. Os acessos à biblioteca e recursos para estudos e escrita que Abdias Nascimento obteve na prisão, serão considerados com importância neste trabalho, para pensar as dificuldades e possíveis finalidades sobre escrever no cárcere. Quais os dilemas que atravessam os registros de Abdias Nascimento dentro da Penitenciária do Carandiru? E quais circunstâncias interferem nos escritos de presos comuns da Penitenciária de Florianópolis? As reflexões propostas neste trabalho serão fundamentadas principalmente a partir de Viviane Borges, a respeito dos arquivos marginais da Penitenciária de Florianópolis e a patrimonialização de passados difíceis, Joey Whitfield, sobre escritos de presos na América Latina, e Thula Pires junto de Malu Stanchi, para refletir sobre os usos do termo “político” vinculado às prisões.
Palavras-chave: Preso comum. Preso Político. Carandiru. Penitenciária de Florianópolis. Autobiografia.