Dom Joaquim José Vieira estava prestes a assumir a Diocese cearense como seu segundo bispo quando enviou, da cidade de Campinas em São Paulo, uma carta pastoral ao Ceará datada de nove de dezembro de 1883. Este documento, de um bispo prestes a assumir uma diocese onde desponta a primeira província “livre” do Império, indicava rumos da questão de como lidar com o ex-escravizado. O assunto inscrito nas entrelinhas da carta revela elementos de um debate que só se dilatou nos anos que se seguiram. Em meio à expressão de contentamento pela conquista, uma advertência sobre os cuidados para que os diocesanos atuem “educando essas criaturas no conhecimento dos deveres religiosos e sociais”. Ainda mais sem deixar de lados de “ensinando-lhes a trabalhar para serem úteis a si e a seus semelhantes”. A advertência denota um entendimento da atividade laboral do escravo era fruto da pressão, da vigilância, da constante ameaça da punição. Na ausência destes elementos, temia-se, os ex-escravizados quedariam inúteis. Era necessário advertir que se deve atuar “ensinando-lhes a trabalhar para serem úteis a si e a seus semelhantes”. O que o bispo tentava prevenir, em linguagem bem direta era a vadiagem. Associar liberdade e vadiagem não era uma novidade, certamente a advertência do diocesano estabelecia um olhar vigilante neste sentido, revelando tramas do denso tecido de preconceitos e atribuições negativas impostas aos ex-escravizados.
Palavras-chave: Pós-Abolição. Racismo. Ceará. Catolicismo.