O presente trabalho objetiva analisar a imagem pública da primeira-dama Luíza Távora, durante as décadas de 1960 e 1980, no Ceará, a partir de fotografias. Luíza soube utilizar bem o lugar de primeira-dama nos espaços de poder para ultrapassar os limites de “bela, recatada e do lar”. Isso a partir da perspectiva de que o poder manifesta-se com rituais, posturas e técnicas corporificadas de apresentação da subjetividade. A primeira-dama sabia os segredos e os meandros dessa arte, a hora de sorrir, a hora em que estava sendo fotografada, de modo que, disfarçadamente, muitas vezes, deixava-se fotografar sem mirar diretamente a câmera, para que sua figura aparecesse como natural, e, desta maneira, o poder se naturalizasse em sua figura. Ela teatraliza, mas disfarça o seu teatro. Tem o controle do tempo presente, no qual a foto está sendo feita, e tem o desejo de que o tempo continue, quando a foto fosse vista depois. A sua figura central, altiva, imponente, aparece sempre, ou quase sempre, no meio dos homens de poder, pois ela sabe que naquele momento o lugar público é mais importante. O controle do corpo e do gestual, portanto, coaduna-se com as nuances de sua personalidade, para que fosse rememorada como uma mulher afável, como uma mulher de fácil trato, atenta aos pobres e às suas demandas. O riso não aparece, a não ser quando sabe que o riso vai ser, também ele, expressão do seu poder. Este, nesse caso, não mais como um ato de autoridade ou de autoritarismo, mas como uma estratégia de sedução. Assim, para a construção do nosso trabalho, utilizamos como metodologia a análise das imagens do Fundo Virgílio Távora, no Arquivo Público do Estado do Ceará, e do jornal O Povo, de modo que possamos analisar as fotografias por uma dimensão natural, espontânea; bem como àquelas que foram estrategicamente posadas, no processo de construção da imagem de Luíza. Desse modo, como resultado parcial percebemos que, o gênero como essencial ao jogo político, foi bem usufruído por Luíza Távora no lugar de primeira-dama. A edificação de sua imagem pública como mãe dos pobres, sobretudo, como estratégia de dominação das classes pobres, associada às ações assistencialistas, ao estereótipo de fragilidade, à maternidade, à caridade, foram atributos utilizados como capital político a serviço do
povo.
Palavras-chave: Imagem. Gênero. Política. Primeiro-damismO.