“A terra te seja leve”: A construção do cemitério da N.S. da Soledade em Belém (PA) (1840-1856).

Autor(a) principal: Rebeca Junior Cardoso Martins - UFPA
Co-autor(a): -

Durante o século XIX, as províncias brasileiras iniciaram políticas de higienização e urbanização de suas cidades com o discurso de desenvolvimento e evolução. Umas das medidas foram à edificação de cemitérios públicos e a proibição de sepultamentos dentro de igrejas, todavia, essas novas práticas não foram bem aprovadas pela comunidade religiosa devido aos ganhos oriundos dos enterramentos e missas dos cristãos enterrados nesses espaços, como é o caso da Cemitera na Bahia em 1835. A pesquisa tem como objetivo discutir sobre como ocorreu a edificação do primeiro cemitério público, Nossa Senhora da Soledade, na cidade de Belém no ano de 1850 abordando desde o momento de sua idealização (1840), inauguração (1850) e funcionamento, principalmente, durante os surtos epidêmicos de Febre Amarela (1850) e Cólera (1855). Para conseguir identificar o processo de idealização e edificação desse campo santo foi realizada a análise crítica e o cruzamento das fontes administrativas (relatórios e ofícios dos presidentes de províncias) e jornalísticas (periódico Treze de Maio) permitindo identificar os gastos com materiais e, principalmente, os empréstimos realizados para Santa Casa, responsável pela necrópole, na construção do local e, também, a mão de obra responsável composta por: homens brancos, negros, indígenas e livres que faziam parte do Corpo de Obras Públicas criada em 1835 com a finalidade de reconstruir a cidade de Belém após a dominação cabana durante o período de 1835 a 1836. Como também, o levantamento dos enterramentos de recém-nascidos, inocentes (1 a 7 anos) e menores (8 a 14 anos) dentro desse cemitério, a partir das listas de óbito existentes no jornal Treze de Maio entre o período de 1850 a 1855 a fim de permitir visualizar o cenário sanitário que a cidade de Belém encontrava-se em meados do século XIX. A edificação desse campo santo havia sido umas das propostas de urbanização e saneamento em que a cidade do Grão Pará estava passando a fim de atingir as expectativas do comércio da borracha que começava a demonstrar o seu futuro promissor para comerciantes da região e ao mercado internacional. Assim como, a construção do cemitério da Soledade e junto com outras medidas de saneamento e higienização tinha como finalidade atingir o progresso e a civilização aos moldes da sociedade parisiense, principal símbolo de evolução e desenvolvimento da época. Todavia, é importante ressaltar que essas políticas sanitárias apenas atingiram localidades pertencentes a distintos grupos sociais. A partir dessa pesquisa, é possível remontar o passado de um cemitério púbico que foi palco de surtos epidêmicos, como também, moradia eternar de personalidades importantes para a história da cidade de Belém. A necessidade de remontar a sua história está interligada ao fato de que, hoje, o patrimônio encontra-se abandonado pelas políticas públicas e pela própria população. Sendo assim, a necessidade de recontar seu passado a fim de ter o conhecimento da importância e singularidade do espaço, visto que, o cemitério é demarcado com a grande exposição de belas arquiteturas e finas peças artísticas proveniente da Europa do século XIX.