Da natureza dos espaços de fronteira nos escritos do Padre João Felippe Betendorf (séc. XVII).

Autor(a) principal: Antonio José Alves de Oliveira - UFSC
Co-autor(a): -

Na segunda metade do século XVII, os projetos de expansão para a Costa Leste Oeste da América portuguesa perpassava não apenas o reconhecimento das populações que viviam em tal espaço, mas também um projeto de apaziguá-los, de torná-los aliados essenciais da Coroa portuguesa, e assim com uma importância incontornável sobre os projetos de colonização dos portugueses naquela região. Isso decorre principalmente por conta das ameaças que as potências neerlandesas e francesas representavam aos interesses portugueses naquele espaço, os franceses inclusive já haviam dominado a “ilha de Maranhão” durante três anos nas primeiras décadas do século XVII. De importância incontornável para os intentos portugueses para aquela área fora, portanto, a criação da Missão dos padres jesuítas no Estado do Maranhão. Sucessor dos padres Antonio Vieira e Luís Figueira na Missão, o padre João Felippe Bettendorf, nascido em Lintgen e tendo estudado em Trier, esteve presente na missão durante trinta e oito anos, desde os idos de 1661. Na missão do Estado do Maranhão, durante a sua estadia, o padre Betendorf além da Crônica da presença da Companhia durante toda a segunda metade do século XVII, em que narra e reflete sobre a diversidade dos grupos indígenas, além do aspecto imponente da natureza e daqueles espaços de fronteira, escreve também o “Compêndio da Doutrina Christã na Língua portugueza e brasílica”, onde busca alcançar as traduções culturais e linguísticas para os objetivos de compreensão e missionação de um grande número de indígenas da região. Embora pertencentes ao projeto jesuíta de expansão da cristandade na América, o Compêndio, assim como a Crônica, nos revelam as projeções e as alianças que se faziam necessárias para a ocupação daquele espaço da Costa Leste Oeste da América Meridional na segunda metade do século XVII, aproximação essa de importância imprescindível para o processo de colonização, posto que afastava as ameaças dos grupos indígenas mais hostis, os ditos índios tapuias dos sertões, assim como afastavam as ameaças das potências estrangeiras de ocupação daquele espaço com essa política de aproximação, amizades, traduções e trocas culturais entre indígenas e missionários. Ademais, tal política de ocupação avançava a passos largos para além das fronteiras estabelecidas com a Coroa espanhola no Tratado de Tordesilhas, avançando pelo vale do Rio Amazonas e seus afluentes, onde uma miríade de outros missionários igualmente atuavam, projetando melhor conhecimento do espaço, na descrição e nas projeções para com o ambiente, no mapeamento da sua hidrografia e na negociação e tentativa de missionação dos  grupos indígenas. A partir da crônica do padre Betendorf pretendemos esboçar algumas análises com escalas variadas, no nível macro das relações entre as potências europeias e as projeções sobre os espaços de fronteiras da América meridional e suas negociações com os os grupos indígenas e com o mundo natural, e no nível micro dos trabalhos individuais dos padres missionários, do esforço e da limiaridade das situações e das trocas culturais entre missionários e a miríade dos grupos indígenas naquele espaço.

Palavras-chave: Missões jesuítas. Amazônia colonial. Cartografia.