A presente pesquisa se propõe a analisar as relações mantidas entre a Rede Globo e a Censura Federal durante a ditadura militar brasileira através, sobretudo, da censura às telenovelas produzidas pela emissora carioca. Para tanto, trabalhamos com o conceito de “jogos de acomodação” que, conforme as contribuições de Motta (2018), consiste no conjunto de arranjos tácitos que permitem acomodar conflitos e tensões envolvendo dois campos, em um jogo de concessões, explorando as possibilidades abertas pelo próprio regime militar para atenuar autoritarismos, aproveitando as “brechas” disponíveis, sobretudo as oferecidas por paradoxos e contradições da ditadura. Nos debruçamos, assim, sobre os incentivos estatais que viabilizaram os primeiros anos da emissora no ar, o acirramento censório pós AI-5 e o processo de censura da telenovela Véu de Noiva (1969), de Janete Clair, objeto de intensa negociação entre a Globo e a Censura Federal. Tal análise é fundamental para compreendermos a rápida consolidação da emissora, bem com os percalços atrelados à repressão empreendida às diversões públicas, os subterfúgios empregados para contorná-los e a lida cotidiana com autoridades dos governos militares. Consideramos que tais relações de força engendraram efeitos singulares à produção cultural da época e são, nesse sentido, vitais para compreendermos as dinâmicas inerentes à estrutura censória então vigente. Eficazes ou não, os jogos de acomodação constituíam-se, no campo da censura à TV, em uma via concreta, delimitada, entretanto, por limites bem demarcados, com base nos interesses dispostos de ambos os lados. Portanto, nosso enfoque se concentra nas tensões, mas, sobretudo, nos consentimentos, negociações e conciliações possíveis, frutos, dentre outras coisas, das peculiaridades de um regime alicerçado por forças de diferentes matizes, que, por vezes, encontrava na acomodação a saída estratégica para harmonizar interesses.
Palavras-chave: Ditadura Militar. Censura. Rede Globo. Acomodação.