Perseu, Hércules, Aquiles e Teseu foram alguns dos heróis gregos que tiveram como dignas adversarias as destemidas Amazonas. Protagonistas de um mito helênico que retrata jovens mulheres caçadoras reconhecidas por suas habilidades com arco e flecha, descomunal força física, aptidão para a equitação e artes de combate. Os triunfos gloriosos e a fama atrelados a essas heroínas mitificadas como Amazonas foram repassados por meio da oralidade, por contos épicos escritos e através de diversas obras de arte por todo o universo greco-romano. Nesse ínterim, o estilo de vida dessas mulheres acabou por capturar a atenção e o entressonho dos gregos. É correto afirmar que o mito das amazonas, bem como o imaginário europeu alcançaram outros continentes no decorrer do século XVI, haja vista que, em 1512, fez-se presente nas narrativas do cronista Frei Gaspar de Carvajal a respeito das expedições do capitão Francisco de Orellana pelo maior rio do mundo, o rio Amazonas. Esses exploradores tiveram contato com um grupo de letais indígenas mulheres que compunham uma sociedade exclusivamente matriarcal. Assim, o resultado do combate dos espanhóis contra as indígenas foi a transferência do legado imaginário europeus às Icamiabas, suas práticas e seus costumes foram associados às gloriosas Amazonas, estendendo-se esta denominação a toda a bacia hidrográfica da região e a florestal tropical ao norte da América do Sul. O antes mito grego das guerreiras, na colonização espanhola serviu como orientação espacial naquele território “conquistado”, por conta disso, o objetivo central desta pesquisa em andamento é discutir as representações acerca das mulheres Amazonas nas cartográficas europeias (século XVI e XVII) da região amazônica, em especial sobre o vale do grande rio, partindo do que foi postulado por Roger Chartier (1990, p. 27 e 28) a respeito do reconhecimento do caráter intencional das representações, expressando interesses e projetos. Em nosso caso, o conceito de representação social nos oferece matéria de reflexão para as nomenclaturas territoriais já apresentadas e para a construção dessas cartografias coloniais. Nesse sentido, a metodologia baseia-se na análise das transformações dessas figuras femininas na comparação e catalogação de 3 mapas, assumindo a cartografia crítica de John Harley. Os resultados iniciais refletem a mentalidade europeia do referido recorte temporal e a ambiguidade dos contatos culturais entre os povos que ali viviam, mostrando que a representação dessas guerreiras nos mapas assume uma função de alerta aos viajantes, além de realçar a questão mitológica das riquezas escondidas e resguardadas do El Dourado. Logo, segundo Bezerra de Menezes (1998) a natureza material dos objetos traz marcas intrínsecas à memória, a durabilidade do artefato o torna passível de expressar o passado, por conseguinte, é fulcral que as fontes já mencionadas despertem um debate vultoso sobre a “invenção” da região amazônica, uma correlação entre o mundo grego e a América, especificamente a Amazônia.
Palavras-chave: Representação. Amazonas. Cartografia. Mitologia. Memória.
Geovane Eleres
em resposta ao Trabalho
Trabalho excelente que nos permite ter novas perspectivas sobre a construção do imaginário brasileiro
Iris Nascimento
em resposta ao Trabalho
Que fantástica essa análise sobre a representação das icamiabas nos mapas. Aguardo a publicação de mais trabalhos seus sobre elas!
Maycom Cristyan
em resposta ao Trabalho
Um trabalho importantíssimo pra historiografia no quesito de unir essa ideia grega e amazônica
Gabriel Valente
em resposta ao Trabalho
achei muito interessante sua escolha de fontes, apresentou uma ótima explicação.