Associações beneficentes italianas: Estratégia de manutenção da elite imigrante italiana em Belém/ PA (1920-1930)

Publicado em: 06/03/2024
Autor(a) principal: Ana Beatriz Moreira Noleto
Co-autor(es): Letícia da Silva Carneiro
Orientador(a): Lívia Maia
Área temática: Patrimônio cultural e memória

No intervalo compreendido entre os anos de 1920 e 1930, consolidou-se no território brasileiro, notadamente na região hoje compreendida amazônica, a concentração de imigrantes italianos oriundos de uma Itália assolada por conflitos e vicissitudes. Em Belém do Pará uma das estratégias engendradas para fomentar a sociabilidade e a fixação desses imigrantes consistiu na instituição de associações beneficentes voltadas à comunidade italiana. Entidades como a Società Italiana de Beneficenza e a Società di Assistenza per gli Italiani di Belém, com a finalidade de preservar a lealdade desses imigrantes ao sentimento patriótico, ofereciam assistência abrangente, abarcando educação, saúde, lazer e cultura italiana, além de prover auxílios pecuniários quando necessário. O impacto expressivo dessas associações na manutenção da presença italiana na região hoje amazônica é incontestável, inclusive na capital do estado do Pará, Belém. Destaca-se que, em virtude da necessidade de um montante significativo para a entrada e mensalidades destinadas à manutenção dos membros nas associações, observava-se uma predominância da elite italiana, a qual era largamente beneficiada por essas instituições. Contrapondo-se a esta realidade, os imigrantes mais desfavorecidos, em sua maioria, se dedicavam às ocupações mais árduas e remuneradas precariamente nas colônias agrícolas, encontrando-se alijados das condições propícias para integrar tais associações. As referidas associações contribuíram de maneira efetiva para a difusão e perpetuação da cultura, do idioma e do sentimento pátrio italiano. Esta influência é exemplificada pela criação, em 1920, da Escola Dante Alighieri pela Società Italiana de Beneficenza. Essa instituição educacional recebia os filhos de italianos residentes na capital paraense, ministrando seus cursos integralmente em italiano, o que desempenhava papel crucial na sustentação do espírito italiano na comunidade (EMMI, 2008). O escopo do presente estudo é investigar os motivos que conduziram os italianos à cidade de Belém, bem como analisar as estratégias por eles adotadas para preservar suas tradições e relações, sem desconsiderar suas raízes. Esta pesquisa é de suma importância, considerando que os italianos representaram o terceiro maior contingente de imigrantes na Amazônia, elevando, assim, a concentração em Belém consequentemente. Estes italianos se mostram desempenhando papel preponderante no desenvolvimento econômico e arquitetônico da região, particularmente durante o apogeu do ciclo da borracha. Metodologicamente, a pesquisa se fundamenta nos estatutos das associações supracitadas, salvaguardados no Centro de Memória da Amazônia (CMA), constituindo a principal fonte de dados para as informações aqui reunidas. A obra da Professora Marilia Ferreira Emmi, intitulada “Um século de imigrações internacionais na Amazônia brasileira (1850-1950)”, e o livro dos professores Cristina Cancela e Rafael Chambouleyron, intitulado “Migrações na Amazônia”, desempenharam papel crucial como referencial teórico. Cumpre salientar que a pesquisa encontra-se em contínuo desenvolvimento, e até o momento, os resultados esclarecem que a principal motivação da migração desses italianos para o Brasil e também para Belém residia na fuga da crise econômica e social que assolava diversos países europeus. Especificamente no caso italiano, a população, especialmente a rural, enfrentava dificuldades para subsistir após anos de lutas pela unificação do país e elevado crescimento demográfico. Quanto às associações, evidencia-se que estas desempenharam efetivamente o papel de estratégia de fixação e rede de sociabilidade italiana, conforme delineado em seus estatutos. Em última análise, conclui-se que a comunidade italiana da elite utilizou essas associações como instrumento para consolidar sua permanência no território, estabelecendo raízes italianas em diversos espaços, sobretudo nas esferas comerciais e fabris, mantendo-se na Amazônia por meio de suas ocupações, ao mesmo tempo que expandia essas raízes por meio de casamentos com brasileiros/as.

Palavras-chave: Imigração. italiano. Amazônia. Estratégia. Associação.

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