Em 1682 se iniciou a trajetória de um viajante pelo ultramar português, Antônio de Albuquerque Coelho, nascido em Santa Cruz de Camutá, no Estado do Maranhão e Grão Pará, onde passou somente parte da infância, sendo mandado para estudar em Portugal e posteriormente para atuar em cargos políticos nas colônias de Goa (Índia), Macau (China), Timor (atual Timor-Leste), e Pate (Quênia). Este trabalho destaca o período em que Antônio esteve presente em Macau, no início do séc. XVIII, onde atuou no Senado e foi governador em 1718. Pretende-se analisar as relações e tensões entre ele, o Senado e parte da comunidade macaense: a elite, os chineses e os missionários neste período, sem deixar de lado as implicações relacionadas à sua origem mestiça – era filho bastardo de Antônio de Albuquerque Coelho de Carvalho, português e primeiro governador da Capitania de São Paulo e sua mãe descendente de indígenas e “negra de Angola”. É de nosso interesse a conexão entre as colônias de Macau e Maranhão e Grão-Pará através da atuação de Antônio como governante. As fontes utilizadas são de característica legislativa, compostas pelas documentações do Leal Senado de Macau, outras são de natureza iconográfica como as pinturas da cidade no período, além da crônica de viagem manuscrita de João Velez Guerreiro em 1718, sendo encontradas digitalizadas e consultadas online nos acervos digitais do Arquivo de Macau e da Biblioteca Nacional Digital de Portugal. Nosso aporte teórico baseia-se nos trabalhos de Charles R. Boxer, para quem Macau possuía um modo de funcionamento específico dentre as demais colônias portuguesas (BOXER, 1946, p. 392) e Serge Gruzinski, para quem a partir da “globalização ibérica” no século XVI, Europa, África, Ásia e Novo Mundo estiveram conectados (GRUZINSKI, 2015, p. 16), sendo possível estudar os agentes daquela globalização. Esta é uma pesquisa em andamento, contudo, nos resultados até o momento alcançados, percebe-se que a origem bastarda e mestiça de Antônio afetou as suas possibilidades de obter cargos políticos no império português, ao mesmo tempo em essa questão era diminuída pelos privilégios de ele pertencer a uma família da elite portuguesa. Diante disso, e sabendo como é possível perceber os interesses, tensões e relações sociais e políticas através da trajetória de um ser humano, Antônio de Albuquerque Coelho traz a especificidade de ser um mestiço, bastardo e amazônico – esse último sendo a característica que inspirou o começo deste trabalho. E justamente essas lacunas que ecoam. Pouco se discute sobre as trajetórias de amazônidas fora do seu território de origem naquele contexto, pessoas que podem trazer muitas e outras contribuições para a historiografia com as suas passagens pelo mundo, desde que se façam conexões.
Palavras-chave: Império português. Leste asiático. Macau. Trajetórias administrativas.
Maycom Cristyan
em resposta ao Trabalho
Excelente apresentação e iniciativa de ligar essas regiões tão distantes
Erike Gomes Pacheco
em resposta ao Trabalho
Excelente contribuição à historiográfia amazônica
Erike Gomes Pacheco
em resposta ao Trabalho
Muito bom o seu trabalho sobre essa temática ainda tão ausente nas pesquisas historiográficas da Amazônia.