Este estudo busca inserir-se nas discussões historiográficas subordinadas às questões político-religiosas do reino católico visigodo, concentrando-se no recorte dos anos de 589 a 633, período que ocorre a conversão oficial ao catolicismo niceísta, registrado no III Concílio de Toledo (589) e seus efeitos no panorama político através do IV Concílio de Toledo (633). O objetivo central é apresentar um conceito de Estado que enquadre historicamente nas formações sócio estatais dos reinos da Alta Idade Média Ocidental, buscando agregar ao debate historiográfico sobre como determinadas configurações estatais que se manifestam nas sociedades pré-capitalistas. Além disso, busca-se analisar a complexa realidade teórica e prática da monarquia, da Igreja e da sociedade visigoda, para obtenção de uma visão do que foi a realidade do poder monárquico entre os visigodos, identificando a conjuntura que motivou o episcopado visigodo a nortear suas ideias políticas, uma vez que este grupo procurou, direta ou indiretamente, direcionar em seus escritos soluções para os problemas do âmbito monárquico. Como fonte primordial, faz-se o uso das Atas do III Concílio de Toledo (589), publicadas em Latim-Espanhol pela Investigaciones Científicas, bem como outras fontes bibliografia que permeiam o pensamento político e a estruturação do reino visigótico, como por exemplo a abordagem das características essenciais na configuração do conceito de Estado Segmentário, defendido pelo medievalista Mário Jorge Bastos (2009), o qual ajuda a fazer apontamentos sobre o cenário de tentativas no controle coletivo das ações individuais de cada membro dominante da sociedade visigótica através dos concílios, tornando perceptível que o controle sobre terras e trabalho eram essenciais à reprodução da classe dominante, de tal forma que a Igreja também participava dessa dinâmica de expropriações de bens do campesinato e corpos, os quais estavam sobre o regime de servidão e escravidão.
Palavras-chave: Estado medieval. Reino visigodo. Concílios. Episcopado.