Devido às intensas mudanças na historiografia, atualizada na terceira geração da Escola dos Annales, a Nova História Cultural, a História Social Inglesa e os caminhos metodológicos abertos pela Micro-História Italiana, viu-se a importância dos estudos acerca da política, do cotidiano, das mudanças, e da experiência dos sujeitos, em particular, dos excluídos, como as mulheres. O final da década de 1980 marcou a chegada da categoria gênero nos estudos de mulher, redimensionando não apenas a História das Mulheres, mas o próprio fazer historiográfico. Embora os trabalhos de gênero já destacassem a preocupação com as categorias de classe social, raça/etnicidade e sexualidade, os estudos de interseccionalidade enfatizaram a necessidade dessa relação, e evidenciaram a diversidade e densidade que esses marcadores sociais da diferença traziam à compreensão da experiência dos sujeitos. Durante o período da chamada primeira república, vemos um contexto social de desigualdades entre a população abastada e os populares. A população pobre vai ser a pauta de políticas de Estado e de ideologias voltadas para o que a elite considerava as classes perigosas, que precisavam ter o trabalho, a moradia e a moralidade controlada. Para garantir esse controle, normas e preceitos foram estabelecidos pelo Estado Republicano e suas instituições, na tentativa de conservar e reformular modelos de comportamento moral e sexual de homens e mulheres. Nessa pesquisa, nos propomos a analisar as práticas e representações das mulheres das camadas populares, no período de 1890 a 1930; e compreender o universo do mundo do trabalho, das relações familiares e do casamento destas, além de analisar a forma como as mulheres das camadas populares vivenciaram essas normas e preceitos hegemônicos e, ainda, em que medida elas dialogaram com essas normas, assimilando-as e resistindo, na construção política do cotidiano que envolve o mundo do trabalho, as relações familiares e o casamento. Essas mulheres estabeleciam práticas que questionavam valores da elite, envolvendo-se em relacionamentos baseados no viver em comum, em uniões plásticas que podiam ser rompidas várias vezes, algumas delas chefes de suas famílias, vivendo relacionamentos solos com filhos ilegítimos (CANCELA, 2011). É o universo dessas mulheres que iremos compreender nessa proposta. Para tanto, será trabalhada como fonte preferencial, os processos criminais localizados no Centro de Memória da Amazônia, instituição patrimonial, subordinada à Universidade Federal do Pará, que salvaguarda parte da documentação pertence ao Tribunal de Justiça do Estado. Os processos são documentos que investigam aquilo que a sociedade estabelece como crime, eles possibilitam a compreensão de uma narrativa encarnada, onde se percebe a agência dos sujeitos, em particular, aqueles que fazem a História vista de baixo. Através dessa fonte podemos chegar ao cotidiano, aos valores e às práticas dos sujeitos e famílias, especialmente, mas não exclusivamente, dos grupos populares, pois nos permite conhecer o universo das práticas e representações das pessoas que protagonizaram esses conflitos, analisando seus padrões de comportamento.
Palavras-chave: Belém do Pará. Gênero. Mulheres. Processos Criminais.
Kleverson Luiz da Silva Cordeiro
em resposta ao Trabalho
Um novo olhar sobre as mulheres subalternizadas da nossa Belém, em pleno mês da mulher a autora traz uma luz que muito é necessária para a pesquisa sobre o nosso povo. Uma nota 10 e espero que isso vá para frente.
Maycom Cristyan
em resposta ao Trabalho
Uma interessante análise do conteúdo de gênero e classe