História das mulheres das camadas populares em Belém: trabalho, família e casamento (1889-1930)

Publicado em: 06/03/2024
Autor(a) principal: Amanda Kellem Moraes Lopes
Co-autor(es): -
Orientador(a): Cristina Donza Cancela
Área temática: História, gênero e abordagens anticoloniais

Devido às intensas mudanças na historiografia, atualizada na terceira geração da Escola dos Annales, a Nova História Cultural, a História Social Inglesa e os caminhos metodológicos abertos pela Micro-História Italiana, viu-se a importância dos estudos acerca da política, do cotidiano, das mudanças, e da experiência dos sujeitos, em particular, dos excluídos, como as mulheres. O final da década de 1980 marcou a chegada da categoria gênero nos estudos de mulher, redimensionando não apenas a História das Mulheres, mas o próprio fazer historiográfico. Embora os trabalhos de gênero já destacassem a preocupação com as categorias de classe social, raça/etnicidade e sexualidade, os estudos de interseccionalidade enfatizaram a necessidade dessa relação, e evidenciaram a diversidade e densidade que esses marcadores sociais da diferença traziam à compreensão da experiência dos sujeitos. Durante o período da chamada primeira república, vemos um contexto social de desigualdades entre a população abastada e os populares. A população pobre vai ser a pauta de políticas de Estado e de ideologias voltadas para o que a elite considerava as classes perigosas, que precisavam ter o trabalho, a moradia e a moralidade controlada. Para garantir esse controle, normas e preceitos foram estabelecidos pelo Estado Republicano e suas instituições, na tentativa de conservar e reformular modelos de comportamento moral e sexual de homens e mulheres. Nessa pesquisa, nos propomos a analisar as práticas e representações das mulheres das camadas populares, no período de 1890 a 1930; e compreender o universo do mundo do trabalho, das relações familiares e do casamento destas, além de analisar a forma como as mulheres das camadas populares vivenciaram essas normas e preceitos hegemônicos e, ainda, em que medida elas dialogaram com essas normas, assimilando-as e resistindo, na construção política do cotidiano que envolve o mundo do trabalho, as relações familiares e o casamento. Essas mulheres estabeleciam práticas que questionavam valores da elite, envolvendo-se em relacionamentos baseados no viver em comum, em uniões plásticas que podiam ser rompidas várias vezes, algumas delas chefes de suas famílias, vivendo relacionamentos solos com filhos ilegítimos (CANCELA, 2011). É o universo dessas mulheres que iremos compreender nessa proposta. Para tanto, será trabalhada como fonte preferencial, os processos criminais localizados no Centro de Memória da Amazônia, instituição patrimonial, subordinada à Universidade Federal do Pará, que salvaguarda parte da documentação pertence ao Tribunal de Justiça do Estado. Os processos são documentos que investigam aquilo que a sociedade estabelece como crime, eles possibilitam a compreensão de uma narrativa encarnada, onde se percebe a agência dos sujeitos, em particular, aqueles que fazem a História vista de baixo. Através dessa fonte podemos chegar ao cotidiano, aos valores e às práticas dos sujeitos e famílias, especialmente, mas não exclusivamente, dos grupos populares, pois nos permite  conhecer o universo das práticas e representações das pessoas que protagonizaram esses conflitos, analisando seus padrões de comportamento.

Palavras-chave: Belém do Pará. Gênero. Mulheres. Processos Criminais.

  1. Kleverson Luiz da Silva Cordeiro

    em resposta ao Trabalho

    8 de março de 2024

    Um novo olhar sobre as mulheres subalternizadas da nossa Belém, em pleno mês da mulher a autora traz uma luz que muito é necessária para a pesquisa sobre o nosso povo. Uma nota 10 e espero que isso vá para frente.

  2. Maycom Cristyan

    em resposta ao Trabalho

    8 de março de 2024

    Uma interessante análise do conteúdo de gênero e classe

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *