Em um período recontado por diversas vezes na história de Belém do Pará como sendo de grande desenvolvimento urbanístico e do modo de vida na cidade aos moldes de uma Belle Époque, a expulsão sócio espacial de uma parcela da população que não se adequava aos parâmetros do que era considerado como “civilizado” fez surgir – e aqui observo a partir de jornais que circulavam na capital – uma nova criminalidade, a partir de agentes das classes mais baixas da sociedade, inclusive daqueles que a menos de uma década se viam na condição de escravizados. A influência mútua entre o que e como são expostos os fatos nos jornais, interligados com a mentalidade de uma sociedade que buscava se moldar a partir de um viés europeu, demonstra a construção, em prol da consolidação, de uma imagem específica nesse meio de comunicação, dos atores criminais que habitavam esta nova dinâmica urbana de Belém do Pará, independente do fato criminal ter acontecido ou não. Analiso, a partir do período inicial de intendência de Antônio Lemos, que decretou em Belém diversas normas em relação a higienização e urbanização da cidade, os crimes e contravenções noticiadas nos jornais locais da capital, buscando nestas notícias as nuances em que são tratados os indivíduos citados conforme características como a sua cor de pele, interligando essas informações com o momento político e social em que se encontrava a cidade de Belém, em pleno auge do ciclo da borracha, analisar a imprensa como influenciadora social, no que diz respeito a construção da imagem dos sujeitos que deveriam ser vistos como contraventores e não exemplares do novo modo de vida paraense, ao mesmo tempo em que se entende que não só a imprensa influencia a sociedade, como a mesma também influencia as publicações, o que nos traz a possibilidade de também analisar a sociedade paraense e quais eram suas atitudes para com as pessoas de classes pobres e de cor, pertencentes às baixadas que se formavam naquele período, graças a sua expulsão em massa do centro da cidade, com seus remanescentes da escravidão e migrantes de outros Estados adjacentes ao Pará. Os jornais serão as principal fonte: Folha do Norte, O Pará, A Província do Pará, em suas colunas de “Boletins Policiais” (áreas destinadas a expor crimes e contravenções ocorridos na cidade e no Estado) cruzadas com outras fontes como os Processos Crimes disponíveis no Centro de Memória da Amazônia, que possuem em seu conteúdo mais informações quantos aos agentes participantes destes episódios, assim como documentos como o Código Penal de 1890 e as subsequentes discussões geradas pelo seu conteúdo, envolvendo o discurso da criminologia e a discussão de raças e racismo científico. Todos esses conteúdos, interligados aos fatos mais instantâneos noticiados pela imprensa diariamente, trarão um parâmetro amplo do estado da sociedade paraense e seus conflitos no período analisado, como a manutenção das distinções de pertencimento no espaço social a partir da classe e da cor.
Palavras-chave: Jornais. Raça. Criminalidade.
Jeferson de Castro Silva
em resposta ao Trabalho
Trabalho corresponde com o padrão. Bom trabalho com o espaço. Enfatizo a ótima desenvoltura da apresentação, assim como as conclusões pertinentes. Ressalto também a leitura da bibliografia e o estudo dos conceitos sugeridos, como: dispositivo para Giorgio Agamben (O que é um dispositivo? e M. Foucault (História da sexualidade 1), dispositivo de racialidade de Sueli Carneiro.