A Ditadura Civil-Militar diante do “perigo comunista chinês”: o caso da perseguição aos membros e o fim precoce da “Associação Cultural Brasil-China” de Paulista, PE

Autor(a) principal: Anna Maria Litwak Neves
Co-autor(a): -

O golpe de 1964 resultou no fim da Política Externa Independente (PEI), iniciada com Jânio Quadros e perpetuada por João Goulart. O alinhamento extremo dos militares brasileiros com as diretrizes de segurança global estadunidenses, visando principalmente o combate internacional ao Comunismo, levou a um hostil afastamento de todas as manifestações de aproximação com países como a República Popular da China (RPC), Cuba e com a URSS, o que resultou na perseguição direta não apenas de militantes políticos dos partidos de esquerda, mas de todos os que haviam, em algum momento anterior ao golpe, tido qualquer tipo de contato com esses países. Com o apoio de uma rede consolidada anteriormente de informações e de vigilância social, como demonstrou Marcília Gama (GAMA, 2014) em sua tese, foi possível o rastreamento e enquadramento desses indivíduos considerados perniciosos pelos militares. Em relação especificamente a RPC, que não tinha assento na ONU e tampouco o reconhecimento oficial por parte do Governo Brasileiro até os anos 1970, a ditadura cravou o fim das tímidas tentativas de aproximação entre o Brasil e a China, sendo muitas dessas iniciativas provenientes de sociedades ou associações culturais de amizade, fundadas em alguns estados do Brasil por civis, com discreta participação do Ministério das Relações Exteriores chinês. Em Pernambuco, a “Associação Cultural Brasil-China”, por vezes mencionada nos documentos como “Sociedade de amizade Brasil-China Popular”, fundada em 1961, foi precocemente fechada em 1964, e seus diretores, Clóvis Ribeiro do Rego (Procurador da Prefeitura do Recife) Severino Cunha Primo (prefeito da cidade de Paulista), detidos pelo Regime Militar acusados do crime de “subversão”. Esse trabalho busca analisar os inquéritos policiais envolvendo os diretores da dita associação, levando em consideração não apenas os aspectos da política externa brasileira após o golpe, como também o contexto no qual a diplomacia chinesa buscava, por meio de associações culturais de amizade, uma integração maior com os países latinoamericanos (dentre eles o Brasil) durante a Guerra Fria. Para tanto, usaremos documentos presentes no sistema SIAN do Arquivo Nacional, o banco de dados Memórias Reveladas (que contém processos do DOPS-PE) e o periódico Peking Review, revista semanal chinesa direcionada à comunidade internacional.

 Palavras-chave: Ditadura Militar. Comunismo. Política Externa. China.