A partir de um processo de constantes transformações na Sociedade Imperial, dois eventos, entre 1884 e 1885, marcaram o período político no império: a abolição da escravidão no Ceará, então província, em 25/03/1884, a partir de um conjuntura na qual se uniram interesses tanto econômicos quanto dos abolicionistas; e a formação do Gabinete ministerial, pelo Partido Liberal, com a presidência do Conselho de Ministros capitaneada por Manuel Pinto de Sousa Dantas e que durou 334 dias (de 06/07/1884 a 06/05/1885). Tais fatos não passaram despercebidos da imprensa do Rio Grande do Norte, que os repercutiu. Este estudo visa dar visibilidade a alguns artigos que foram publicados no período nos jornais “Correio de Natal” e “Actualidade”, apoiadores das ideias do Partido Conservador, e “Liberdade” e ” O Liberal”, apoiadores das ideias do Partido Liberal. Tal imprensa denota o interesse de ambas as vertentes em esposar a defesa da abolição, em circunstâncias, ritmos, condições e interesses diferentes. Na imprensa da época travou-se dura batalha de opiniões, sobretudo a partir do plano de governo do Gabinete Dantas, que incluiu, dentre outras medidas: localizar e registrar o elemento servil; aumentar os recursos do Fundo de Emancipação; libertar os escravos com 60 anos de idade ou mais e assentar os libertos em terrenos desapropriados às margens das estradas de ferro e dos rios navegáveis. Este estudo advém de uma pesquisa que ainda está em fase de conclusão e que visa, também, entender possíveis contradições entre o discurso e a prática social de determinadas personalidades históricas, a exemplo de Amaro Carneiro Bezerra Cavalcanti, bacharel de Direito, que chegou ao Rio Grande do Norte após ser nomeado Promotor Público da Comarca de Maioridade (Martins), em 1848. Foi Juiz de Direito em São José de Mipibu, cinco vezes Deputado Provincial e teve 7 mandatos de Deputado-Geral (federal). Presidiu a Assembleia do Estado do RN em quatro oportunidades (1857-1860-1862-1868). Ao mesmo tempo em que Amaro Cavalcanti era uma referência política dos liberais norte-rio-grandenses era também proprietário de uma escrava, a qual castigou por suposta fuga, roubo e “agressão à sua senhora”. A partir do suporte teórico de Benedict Anderson, que analisou como são construídas as comunidades imaginadas, e de François Hartog, que pesquisou como os historiadores podem enfrentar a escolha entre memória e história, este estudo também buscará compreender como a imprensa de determinada época relata eventos políticos de seu interesse a fim de criar situações que visam objetivos ora econômicos, ora políticos ou ideológicos.
Palavras-chave: Escravidão. Abolição. Imprensa. Partidos. Personalidades.