A presente proposta de comunicação tem o objetivo de apresentar os resultados preliminares de pesquisa de mestrado sobre a formação de uma comunidade africana no Recife oitocentista no contexto da diáspora, assim como tratar de suas ressignificações étnicas e identitárias dentro de um novo território. A diáspora africana passou a ser um tema frequente dentro das análises historiográficas sobre o tráfico de escravos para as Américas a partir da década de 1970. Novos olhares sobre a temática tem sido construídos a fim de trazer abordagens ainda não exploradas. Mais do que um deslocamento forçado, a diáspora representa a transferência cultural e identitária de um território a outro, o que, nos estudos africanos e afro-americanos remete-se ao tráfico de pessoas negras para o Novo Mundo entre os séculos XVI e XIX. A rentabilidade do comércio resultou em altos números de africanos levados para fora de seu continente através do Atlântico. Cerca de 12 milhões de indivíduos foram arrancadas compulsoriamente de suas “nações” para alimentarem uma economia escravista do outro lado do oceano. O recorte, 1830-1840, se apresenta bem sugestivo, pois uma nova legislação sobre o tráfico transatlântico de escravos entrava em vigor. O século XIX se mostrou peculiar e nesses cem anos a escravidão atingiu seu ápice, mas também seu declínio. Foi também durante este século que os primeiros impressos começaram a circular no Brasil. Em Pernambuco, o principal periódico provincial surgiu na passagem do primeiro para o segundo quartel dos oitocentos. O Diário de Pernambuco, publicado em edições diárias, nos fornece relevantes dados acerca da escravidão, da população africana, assim como dos grupos étnicos presentes na capital pernambucana e regiões circunvizinhas. A seção Escravos Fugidos – do mesmo jornal – revela muito do que foi o Recife escravista. Notícias sobre fugas de escravos eram publicadas diariamente fornecendo informações importantes sobre quem eram os cativos. Havia um certo padrão em suas características gerais – quase sempre aparecia o nome do fugido, a idade, sua “nacionalidade” (crioulo ou africano), sua etnia, além de traços estéticos: marcas de nação, cabelo, vestimenta etc. O Recife, terceiro maior porto escravista do Brasil, tinha um alto contingente de africanos dentro de seu espaço físico, e entre ruas e rios essa comunidade não passava desapercebida. Escravos, forros, livres e libertos, os africanos transformaram a sua cultura em um novo território, território esse que passou a ser sua nova casa, seu novo espaço de sociabilidade.
Palavras-chave: Anúncios de Jornais. Comunidade Africana no Recife. Diáspora. Etnia. Tráfico.