A cidade de Fortaleza, a partir da segunda metade da década de 1860, passou por amplas transformações de caráter material e econômico, devido à intensificação da exportação do algodão cearense para a indústria inglesa. Um participante ativo desse processo de modernização foi o escritor e farmacêutico Rodolfo Teófilo (1853-1932). No final da década de 1860, para auxiliar no sustento da família, ele trabalhou como caixeiro-vassoura na casa comercial Albano & Irmão, grande exportadora cearense de algodão. Ele relatou as aventuras e frustrações desse período na sua penúltima obra memorialística O caixeiro (1927). Além de registrar a luta dos caixeiros para se tornarem uma classe social reconhecida e a rápida modernização de Fortaleza, a obra trata da formação literária e intelectual do referido escritor, registrando os seus primeiros anseios poéticos e as dificuldades para continuar os estudos. Este trabalho tem por objetivo investigar como a leitura foi um instrumento de ascensão social e intelectual para Rodolfo Teófilo, além das suas lutas para a obtenção de capital cultural e as tensões no campo literário da cidade. Para o propósito dessa pesquisa, foi necessária uma análise do contexto de Rodolfo Teófilo, pois o escritor desenvolveu uma relação tensa e complexa com as condições históricas, políticas e culturais que interferiram direta e indiretamente na sua formação literária e intelectual. Foi feito um estudo do contexto histórico e literário de Fortaleza do referido período, embasados por José Ramos Tinhorão em A província e o naturalismo (1962), Sebastião Rogério Ponte em Fortaleza Belle Époque (2001), Dolor Barreira em História da literatura cearense (1948), Sânzio de Azevedo em Literatura Cearense (1976) e Uma Nova História do Ceará (2007) organizada por Simone Souza. A pesquisa se concentrou nos conceitos de Pierre Bourdieu de campo literário, em As regras da arte (1996), e capital cultural, em A Distinção: crítica social do julgamento (2007). Essas categorias auxiliaram para entender a luta dos caixeiros pelo capital cultural como forma de inserção no concorrente espaço do campo literário e intelectual da capital cearense. Acerca da prática da leitura, o apoio teórico adveio do historiador Roger Chartier, em Cultura escrita, Literatura e História (2001) e Práticas de leitura (2009). Com essa pesquisa, partir dos relatos de Rodolfo Teófilo, foi observado que era considerado importante a obtenção de cultura letrada, isto é, do capital cultural, para ter uma voz ativa e respeitada no campo literário e intelectual de Fortaleza. Desde cedo, por meio de uma perspectiva liberal e iluminista, Teófilo adquiriu a consciência de que só o livro o salvaria da “inutilidade” e do “anonimato” literário. Além da formação intelectual e da continuidade das leituras literárias, apesar do fazer poético ser marginalizado pela burguesia fortalezense, ele estava dividido em continuar a se expressar por meio da poesia, ou se concentrar nos estudos para adquirir um diploma de curso superior, algo considerado mais pragmático para o seu contexto. Esta pesquisa é apoiada pela FUNCAP.
Palavras-chave: Rodolfo Teófilo. O caixeiro. Leitura. Campo literário. Capital Cultural.