O trabalho desenvolvido insere-se no campo da História das Cidades, especificamente no tema dos Transportes Urbanos, e busca traçar um estudo histórico relacionado sobre a implantação do transporte ferroviário urbano, introduzido no cotidiano da população recifense a partir de 1867. O modal que se estabeleceu no Recife foi popularmente conhecido como “maxambomba”, uma composição de locomotivas e vagões, trafegando por trilhos e estações que permitiram o abreviamento das distâncias entre os bairros centrais do Recife, e deles aos chamados arrabaldes. O texto sobre o tema foi escrito a partir da análise de documentos oficiais, os relatórios dos presidentes de província de Pernambuco, redigidos entre os anos de 1864 a 1869. O objetivo da pesquisa é compreender os procedimentos adotados em arranjos contratuais, de execução das obras e para a efetiva operação nos primeiros anos dos trilhos urbanos, assim como o percurso do seu avanço visto sob o prisma das tratativas narradas aos deputados da Assembleia Provincial. A partir do uso da técnica de análise do discurso, adicionamos aos objetivos, a percepção da natureza dos argumentos técnicos e políticos em defesa ou em resistência ao projeto, buscando articulá-la com os elementos do imaginário e da mentalidade da modernidade novecentista, tão profundamente analisada pela historiografia global. Ao analisar aspectos do ideário das lideranças imperiais da província, é possível entrever o significado do projeto de trilhos urbanos para o Recife. A ferrovia foi abordada como signo civilizacional e do progresso econômico, do enriquecimento de quem negocia com mercadorias. Assim, era apresentada como um projeto que parecia infalível, adquirindo conteúdo salvacionista, representando uma exaltação à racionalidade em crescente articulação da ciência com a técnica, marcante da modernização ocidental em todos os níveis. Os sonhos que a ferrovia inspirava, pareciam maiores do que as dificuldades cotidianas: dificuldades financeiras para efetuar desapropriações fizeram se prolongar os trilhos, com curvas que tangenciaram prédios; para os sinistros encontraram culpados na própria população, eximindo a empresa de responsabilidades; problemas com a qualidade do material rodante encomendado do exterior; problemas com os bilhetes de viagem, que se tornaram moeda corrente na cidade; problemas com o trânsito de pedestres e outros modais, devido à altura dos trilhos em relação ao patamar das vias. Todos esses problemas emergiram na nova paisagem urbana recifense, e eram tratados pelos presidentes de província em seus relatórios. O potencial econômico dos trilhos de urbanos de Recife era sedutor. Em menos de dois anos após a inauguração, já tramitava uma requisição ao gabinete imperial para a formação de uma companhia, a Brazilian Street Railway Company, sediada em Londres e formada por capital inglês brasileiro, e que comprara a empresa recifense por £50.000. Embora não apareçam nos relatórios provinciais informações sobre o crescimento da demanda transportada, sabemos que ao final de 1869 a companhia já operava com número igual de veículos a 1ª e 2ª classe, eram 18 veículos para transporte de pessoas e 4 para carga, e em 1870 havia encomendado mais 16 veículos, revelando assim um vertiginoso crescimento.
Palavras-chave: Trilhos urbanos. Maxambomba. Recife. Século XIX. História Urbana,