A pedra da batateira: apontamentos sobre lendas e ensino de história

Autor(a) principal: Gustavo Marques de Sousa
Co-autor(a): -

Este artigo tem o objetivo de traçar perspectivas sobre a relação entre as lendas e o ensino de História. A partir da lenda da Pedra da Batateira, que conta sobre um dilúvio que inundaria a região do Cariri cearense como castigo, tecemos considerações sobre como ela foi forjada, as transformações nas suas narrativas e como ela pode servir como um portal para os conhecimentos sobre a região. Sua trama revela que haverá estrondos que acordará uma serpente que dorme nas entranhas do subsolo desse lugar, fazendo com que a pedra, que represa as águas mais profundas, role e inunde toda a localidade. Há duas versões: a primeira diz respeito a uma punição aos que praticaram violência e genocídio aos indígenas que lá habitavam durante a ocupação das terras. O dilúvio os traria de volta e assim reinaria a paz. A segunda foi atribuída ao Padre Cícero, santo popular nordestino, na qual as águas varreriam os pecados do mundo e os romeiros do padrinho poderão viver a paz no mundo. As lendas, para Cascudo (1998), são narrativas, advindas e transformadas na tradição oral popular, sobre feitos heroicos ou sentimentais com enredos que misturam a elementos fantásticos e sobrenaturais. Elas são rasteáveis no tempo, no espaço, contam sobre os entes e os fenômenos do imaginário e carregam historicidades, contextos, personagens que são anúncios das formas de crer e ver o mundo. Através de uma metodologia qualitativa e do cotejamento de fontes encontradas em periódicos e obras de cunho folclórico, tecemos essa pesquisa a partir da reflexão sobre ensino e o imaginário sobre a Pedra da Bateira. Saindo do campo comum que discute o real e ficção, fantástico ou realidade, verdade ou mentira, a narrativa sobre-humana que analisamos trilha caminhos onde podem ser discutidos temas como história indígena, religiosidades, colonização e sustentabilidade, por exemplo. Ao incorporar essa narrativa ao ensino de História, não apenas visitamos as memórias do passado, mas também estimulamos a reflexão crítica dos alunos sobre sua própria identidade e a diversidade de experiências que estão na moldura da história e das culturas da região do Cariri.

 Palavras-chave: Imaginário. Mito. Índios Kariri. Romeiros. Chapada do Araripe.