A semiótica bakhtiniana e a recepção do discurso histórico: uma sequência de Tempos Modernos e a Didática da História

Autor(a) principal: Roberto Abdala Junior
Co-autor(a): -

Um problema da Didática da História intrinsecamente ligado à ciência da História é o da recepção do discurso histórico (Saddi, 2022). Se ele for tomado sob à visão de historiadores que consideram outras linguagens para dar expressão às experiências humanas no tempo, o problema ganha dimensão e complexidade ampliada. Na apresentação, pretendo sugerir então uma possibilidade de enfrentamento de parte do problema. Trata-se de demonstrar como o uso da semiótica bakhtiniana (Jakobson, 2010) permite apreender uma série de elementos que entram na configuração de uma sequência cinematográfica, a fim de fornecer a leitura (sua performance) – inclusive histórica – pretendida pelos autores. O objeto analisado é uma sequência do filme Tempos modernos (Chaplin, 1936). A ideia é demonstrar, por meio da análise, que elementos da sequência cinematográfica que entram na sua configuração visual pretendem realizar “performances” que assegurem sua recepção, seu entendimento pelo público – assim como qualquer outro discurso sobre experiencias do tempo. A análise assenta-se na semiótica bakhtiniana, segundo defendo, pode ser aplicada à qualquer discurso, independente da linguagem. Seguindo esse exemplo pontual, argumento que alguns problemas enfrentados pela História e/ou pela Didática da História podem ser melhor enfrentados. Atribuo o pouco uso das teses bakhtinianas em análises, mesmos de linguistas ou analistas de discursos, ao fato de que as sugestões bakhtinianas, no que se refere à contextualização sociocultural e/ou histórica, são raras. Menos atenção ainda é dispensada aos elementos “não verbais” (Bakhtin/Volochínov, 2017) que podem entrar na composição dos discursos e/ou na configuração dos contextos, seus significados e sentidos. Se não é tarefa fácil reunir, de forma articulada, todos esses elementos, o trabalho de historiadores e/ou professores de História consiste, exatamente, em realizar algo assim, estabelecendo conexões, evidentes e/ou não, como o presente e as perspectivas de futuro e, como se tem vislumbrado desde a invenção do cinema, também é assim que trabalham alguns cineastas. As teses bakhtinianas serviriam, pois, a todos os profissionais da ciência História, com a vantagem de não se restringirem a uma linguagem e tampouco aos elementos verbais das necessárias contextualizações históricas e socioculturais.

Palavras-chave: História. Didática. Narrativa audiovisual.