Em 1752, após anos de debates entre os membros da coroa portuguesa e a burocracia colonial, a realeza lusa autorizou a navegação fluvial, por meio dos rios Madeira, Mamoré e Guaporé, entre o Estado do Grão-Pará e a recém-criada capitania do Mato Grosso, localizada no Estado do Brasil. Essa medida real explicava-se a partir da necessidade da coroa portuguesa em assegurar e proteger domínios territoriais após a assinatura do Tratado de Madri, firmado em 1750 e fundamentado no princípio do Utis possidetis. Esse caminho fluvial era frequentado por diversos tipos de expedições, como as militares (ou que transportavam produtos bélicos) e as comerciais. Essas viagens duravam meses. Nesse sentido, embora as expedições iniciassem as viagens com alimentos para atender as demandas, durante a viagem era necessário fazer reabastecimentos. A partir de relatos de viajantes, dos documentos do Arquivo Histórico Ultramarino e do Arquivo Público do Pará e do Arquivo Público do Mato Grosso, pretende-se apresentar uma reflexão sobre o abastecimento e alimentação das expedições durante as viagens. Observa-se a partir da documentação: como ocorria esse abastecimento nas vilas localizadas no caminho fluvial; quais alimentos consumiam; a diferenciação existente entre os alimentos consumidos no Mato Grosso e no Grão-Pará; e os conflitos e interesses que permeavam a disponibilidade, ou não, dos gêneros alimentícios. Considera-se, então, como garantir a disponibilidade desses alimentos era fundamental para consolidação do caminho fluvial e que essa disponibilidade estava, em algumas situações, relacionada às questões naturais e moradores do Grão-Pará e Mato Grosso.
Palavras-chave: Alimentação. Abastecimento. Grão-Pará. Mato Grosso. Século XVIII.