Café Patriota: um lugar de memórias monárquicas em Fortaleza.

Autor(a) principal: Mariana Viana Rodrigues – UFC
Co-autor(a): Ana Caroline Silva Oliveira - UFC

O presente trabalho analisa o Café Patriota, estabelecimento que existiu de 2017 a 2019 na cidade de Fortaleza no estado do Ceará, como sendo fruto de práticas empreendidas por defensores do retorno da monarquia no Brasil que se utilizaram de trabalhos com a memória para divulgar ideais e conquistar novos adeptos. Fundado em novembro de 2017, o café moveu um discurso saudosista, além de ser um meio de propagação e afirmação de um revisionismo histórico através de sua decoração, seus pratos e seus eventos pautados em uma visão conservadora e monarquista em que todos os elementos do local propunham a ideia de que os tempos gloriosos do Brasil foram aqueles em que o país era governado pela família imperial. Concomitante a análise do empreendimento, faz-se um balanço da ascensão da direita no Brasil no século XXI, mais especificamente a partir de 2015. Com o emergir desses ideais, surgiram novos atores sociais com velhas demandas, como é o caso dos direitistas que produzem manifestações pela restauração do regime monárquico personificados nas ideias do Café Patriota. Foram trabalhados conceitos como direita e esquerda, monarquia, memória, empreendimentos de memória, nacionalidade e lugar de memória para explorar o conteúdo. O material exposto se utiliza de autores como Norberto Bobbio (1994), Elizabeth Jelin (2001), Durval Muniz Albuquerque Jr (2007), Piere Nora (1993) e outros que possibilitaram a compreensão da construção do complexo cenário político e histórico brasileiro onde muitos sujeitos disputam a supremacia de seus ideais. O trabalho em questão também defende a tese de que o Café Patriota é um lugar de memória, conceito definido por Pierre Nora pois esse historiador defende que para ser um lugar de memória um espaço precisa reunir três características basilares: “lugares simultaneamente materiais, simbólicos e funcionais, nisso diferindo somente quanto ao grau: os três aspectos coexistem sempre” (Nora, 1993, p. 21-22 apud Gonçalves, 2012). O Café Patriota conflui esses três aspectos pois possui uma sede material, tem uma forte simbologia (não só para seus apoiadores, mas também para seus opositores) e tem um forte caráter funcional de reunião e promoção de ideias e de pessoas em prol de ideais monárquicos e direitistas já que se auto intitulava espaço histórico e cultural. Além de intensa pesquisa bibliográfica, o trabalho contou com análise de redes sociais, páginas oficiais e vídeos produzidos pela direita e pelo Café Patriota, assim como visitas presenciais ao estabelecimento para escrutínio de seus elementos e eventos. Conclui-se com a existência deste local que eventos do passado são utilizados no presente por grupos que pretendem um país mais conversador, demonstrando que a história não se encerra nos fatos ocorridos no passado, ela é fluida e se move entre várias temporalidades, fazendo-se necessária a análise desses usos históricos.