A Campanha da Fraternidade do ano de 2023, teve como o tema o combate à fome. E mais uma vez, assim como em vários anos, a temática gerou críticas no meio ultraconservador cristão. Se fizermos uma pesquisa simples nos mecanismos de busca da internet, essa notícia não é uma novidade. Outro caso recente envolvendo os temas da CF, foi em 2021, que grupos fundamentalistas fizeram críticas e promoveram um boicote a CF que trouxe como tema um apelo ao diálogo com a população LGTBQIAP+, propondo a inclusão e o combate as violências envolvendo as minorias no Brasil. A Campanha da Fraternidade surgiu como um movimento para arrecadar recursos para financiar as atividades assistenciais da Cáritas Brasileira. A primeira campanha aconteceu em 1961, mas foi somente em 1962 que essa ação foi batizada de Campanha da Fraternidade, tendo sido realizada pela primeira vez na cidade de Natal – RN. A campanha é promovida anualmente no período da Quaresma, terminando no Domingo de Ramos. Devido ao êxito da campanha, ainda em 1962, durante o Concílio do Vaticano II (1962 – 1965), a Igreja do Brasil viu a oportunidade de estender, fundamentar e estruturar o projeto da campanha. E, em 20 de dezembro de 1964, os bispos brasileiros aprovaram o texto que fundamentou a ação. As temáticas abordadas pelas CF, desde seus primeiros momentos, buscaram trazer para o meio cristão temas que pudessem promover a evangelização, consciência e ação social. Em muitos casos os temas foram tidos como polêmicos e, para alguns, “sobra militância e falta religião”, conforme afirmam alguns religiosos extremistas. Porém, essa acusação de uso político “esquerdista” para um evento religioso não é novidade, ao buscarmos nos arquivos do Serviço Nacional de Informações (SNI), encontramos diversos documentos que produziram análises sobre os temas e subsídios produzidos nas campanhas para a sensibilização dos fiéis. Dessa forma, este trabalho tem como objetivo analisar a repercussão de duas campanhas promovidas pela CNBB, na década de 1970. A primeira, de 1974, teve como tema Reconstruir a casa – onde está teu irmão?, que propunha trazer à tona uma reflexão sobre as péssimas condições de vida e do avanço das desigualdades sociais. Esta sofreu um processo de censura por promover o debate em conjunto com o Comitê de Defesa aos Presos Políticos (CDPP) sobre a questão dos desaparecidos políticos. Na campanha de 1978, cujo tema tratou sobre o mundo do trabalho, Fraternidade no mundo do trabalho – trabalho e justiça para todos, também desencadeou preocupação pelo tom subversivo entendido pelos órgãos de segurança nacional. A ideia é que possamos compreender como esses movimentos da Igreja católica brasileira eram observados e enquadrados pela comunidade de informações e, dessa forma, foram categorizados como subversivos e terroristas.
Palavras-chave: Campanha da Fraternidade. Serviço Nacional de Informações. Movimentos da Igreja Católica.